19/09/2016 às 09:17, atualizado em 05/12/2016 às 16:45

Novacap: 60 anos de história candanga

A folha de ponto da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil teve funcionários célebres, como Israel Pinheiro, Oscar Niemeyer, Lucio Costa, Athos Bulcão e Burle Marx. Atualmente, a empresa cuida dos jardins, da manutenção de vias, das calçadas e da poda de árvores

Por Jade Abreu, da Agência Brasília

Quando a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap) foi criada, em 19 de setembro de 1956, o objetivo era coordenar as obras da construção de Brasília, e, com a inauguração, a empresa seria fechada. Porém, em 1960, nem tudo estava pronto, e ela continuou os serviços. Há 60 anos, a Novacap cuida dos jardins, da manutenção de vias (recapeamento, pavimentação, limpeza de bocas de lobo), das calçadas e da poda de árvores. A companhia teve na folha de ponto funcionários célebres na história candanga: Israel Pinheiro, Oscar Niemeyer, Lucio Costa, Athos Bulcão, Burle Marx.

Antes e depois da Construção do Congresso Nacional

Antes: Arquivo Público do Distrito Federal. Depois: Tony Winston/Agência Brasília


IGREJA NOSSA SENHORA DE FÁTIMA

O formato da capela, projeto de Oscar Niemeyer, faz referência a um chapéu de freira, e o exterior estampa azulejos de Athos Bulcão. O templo católico, conhecido como Igrejinha, fica na 307/308 Sul. Há missas celebradas de terça-feira a sábado, às 6h30 e às 18h30; e aos domingos, às 7 horas, às 9 horas, às 11 horas, às 18 horas e às 19h30.

Antes e depois do Teatro Nacional

Antes: Arquivo Público do Distrito Federal. Depois: Tony Winston/Agência Brasília


ESPLANADA DOS MINISTÉRIOS

A Esplanada dos Ministérios, com 17 blocos, foi projetada por Niemeyer e fica no Eixo Monumental. O local é cenário de eventos e de protestos em Brasília.

Israel Pinheiro na construção de Brasília

Foto: Arquivo Público do Distrito Federal

A postura de Israel foi importante para o desenvolvimento da nova capital. “Sem o Israel Pinheiro, não se teria conseguido fazer [Brasília] em três anos. O Israel Pinheiro que era o realizador. Era o fazendeiro, o engenheiro competente”, disse Lucio Costa, em entrevista para o Arquivo Público do Distrito Federal em 1988.

LUCIO COSTA

Athos Bulcão em Brasília

Foto: Arquivo Público do Distrito Federal

Se na literatura Athos é um mosqueteiro que, em equipe, faz feitos para a França, em Brasília, o nome não deixa de ser de um personagem emblemático para a história. Athos Bulcão foi funcionário da Novacap de 1957 até 1981 e é o responsável pelos azulejos da Igrejinha Nossa Senhora de Fátima, do Brasília Palace Hotel e pela capela do Palácio da Alvorada — trabalho que inclui a pintura do teto e o desenho dos castiçais e dos objetos de culto.

O artista plástico ainda ajudou a escolher a cor das cortinas no Palácio do Planalto e no Supremo Tribunal Federal. “Então pra criar uma sensação de espaço, assim, de vazio, a cor encontrada foi aquele verde-garrafa, que tá lá e que é usado nesses tempos, essa cortina”, disse Athos Bulcão, em entrevista para o Arquivo Público do Distrito Federal em 1988.

Para ele, um dos desafios da companhia para a construção foi o período de chuva. As tempestades deixaram descrentes até mesmo os mais célebres entre os construtores de que a capital poderia estar pronta no prazo. “E eu, um dia, escrevi pra um amigo meu: ‘Eu acho que não vai dar tempo de inaugurar esse negócio aí, ficar pronto em abril.’ Foi inaugurado em abril de 60.”

ERNESTO SILVA

O primeiro diretor da Novacap, Ernesto Silva, foi quem mostrou a Juscelino os pontos-chave da construção da cidade. “Onde é que ia ser o aeroporto, onde é que podia ser o aeroporto, onde é que tinha material de construção, enfim, durante as três horas de avião fui eu que expliquei tudo a ele e ao Israel Pinheiro, tudo”, disse, em entrevista ao Arquivo Público do Distrito Federal em 1987.

Diferencial de Ernesto Silva era no apelo social. Ele é quem teve a ideia de investir em áreas de lazer, de educação e hospitalar na cidade. “Se não fosse eu, não havia as escolas. Se não fosse eu, não havia Escola Parque, que depois não construíram mais. Se não fosse eu, não havia Hospital de Base. Se não fosse eu, não havia o clube de Unidade de Vizinhança da 108”. Segundo ele, a preocupação dos engenheiros era em infraestrutura, como estradas, iluminação, avenidas etc.

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História da Novacap

A Novacap foi criada pela mesma lei que determinou a construção de Brasília, a latitude exata e o nome da nova capital. É o segundo artigo da Lei nº 2.874, revogado em 1972. Com a revogação, ficou responsável por executar as obras e serviços de urbanização e de construção civil de interesse do Distrito Federal. Como empresa pública, funciona com 49% de ações da União e 51% do governo de Brasília.

A companhia desenvolvia um papel social para os operários. Não só fiscalizava os acampamentos e os alojamentos, mas também administrava as farmácias, atendimentos à tuberculose, hospitais volantes, transportes e chegou a fabricar tijolos para a construção das casas dos funcionários. Até casamento coletivo foi feito sob coordenação da Novacap.

Ela também era responsável por definir os salários de seus empregados durante a construção. Como a busca por mão de obra era constante entre as construtoras, havia oferta de serviço o tempo todo. Algumas empresas enviavam representantes aos campos de obras das concorrentes para anunciar vagas. Essa prática fez com que o preço do trabalho ficasse acima do de mercado e inflacionasse o serviço. A Novacap então interveio e fixou o teto salarial.

Do descampado de Brasília à construção de um lago, a companhia tomou a frente das construções. O Lago Paranoá era uma obra de empresa estadunidense, mas o presidente JK achou que o serviço estava atrasado, demitiu os estrangeiros e o deixou a cargo da Novacap, que concluiu no prazo, com a inauguração em 12 de setembro de 1959, aniversário de Juscelino.


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Edição: Raquel Flores