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23/01/2017 às 09:38, atualizado em 21/12/2017 às 14:22
Plano de ações proposto pela Secretaria da Agricultura inclui recuperação de canais de irrigação, melhorias em estradas vicinais e recomposição vegetal para revitalizar nascentes
Com a escassez hídrica no Distrito Federal, as medidas de uso consciente da água serão reforçadas também na área rural. A Secretaria da Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural divulgou, nesta segunda-feira (23), um conjunto de ações de curto e médio prazos para adequar a produção agropecuária ao momento por que Brasília passa. Além de ajudar na recuperação da capacidade de abastecimento da Barragem do Descoberto, as iniciativas vão modernizar o setor local.
O anúncio ocorreu nesta manhã, em coletiva à imprensa na sede da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico (Adasa-DF).
A ideia é incentivar uma mudança no uso dos recursos hídricos e do solo. Pelo menos 800 imóveis rurais que se valem de irrigação, em toda a Bacia do Alto Descoberto, devem aderir às medidas. “Os produtores rurais já têm feito muitos esforços para reduzir o uso dos recursos hídricos, com a redução do volume de retirada dos cursos d’água e com a alternância do período de irrigação, por exemplo, mas é necessário intensificarmos as ações para fazer chegar mais água no reservatório”, explica o secretário da Agricultura, José Guilherme Leal.
“Os produtores rurais já têm feito muitos esforços para reduzir o uso dos recursos hídricos, mas é necessário intensificarmos as ações para fazer chegar mais água no reservatório (do Descoberto)”José Guilherme Leal, secretário da Agricultura do DFesquerda
A situação atípica, de chuvas abaixo da média na região do Descoberto, já ocorre há três anos. Com isso, 36.379 hectares na área passarão por adequação. “Nunca Brasília esteve em nível de abastecimento como o de agora, e nós não podemos aumentar o consumo de água”, destacou o diretor-presidente da Adasa, Paulo Salles.
De imediato, serão recuperados sete canais de irrigação que atendem a Bacia do Descoberto: o do Rodeador; do Guariroba; do Cristal; do Olaria 2ª fase; do Capão Comprido ramal 1 e 2; e do Índio. Assim, a água que antes corria por meio de valas chegará às propriedades via tubulação. As estruturas cilíndricas têm diâmetro variável, a depender da vazão da água no trecho. A expectativa é que a perda de água por evaporação e infiltração diminua em 45%.
O Canal do Rodeador, que atende cerca de cem propriedades na região de Brazlândia, é uma das prioridades. Serão recuperados 32 quilômetros de canal. No entanto, será necessário buscar complementação de recursos com o governo federal, pois se trata de uma intervenção de grande porte.
Outra iniciativa será a recuperação de estradas de terra que dão acesso às propriedades, como forma de reverter a erosão em pontos perto do reservatório. Com isso, espera-se reduzir a deposição de sedimentos nas nascentes que deságuam no Descoberto.
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Feitas em parceria com a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap), as intervenções incluem a construção de quebra-molas. Dentro das propriedades, por sua vez, serão construídas bacias de retenção para evitar o carreamento (transporte de sedimentos pela água) de partes de solo, pedras e outros materiais para os cursos d’água.
O plano abrange ainda o terraceamento, ou seja, a divisão do solo em rampas niveladas para evitar a formação de sulcos e de erosões nas lavouras. Além disso, está previsto nas propriedades o revestimento dos reservatórios para irrigação com lona plástica, procedimento necessário para conservar o volume de água armazenado.
Como parte das propostas estruturantes, haverá reforço no trabalho de assistência técnica para manejo de irrigação que já é feito pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF). Assim, os produtores serão conscientizados para substituir o sistema de irrigação por aspersão — conhecido como pivô — pelo de microaspersão ou gotejamento. “A substituição dos sistemas contará com financiamento por meio do Fundo de Desenvolvimento Rural, da secretaria, com crédito subsidiado”, adianta Leal. Os projetos de mudança serão elaborados pela Emater. A princípio, serão colocados R$ 5 milhões para a linha de financiamento.
A inovação tecnológica vai permitir a redução do consumo. “Se eu tenho uma irrigação por aspersão que gasta 8 milímetros de lâmina d’água, num sistema de microaspersão eu passo a gastar menos de 6 milímetros. Isso é uma economia real”, defende o presidente da Emater, Argileu Martins da Silva.
O investimento na modernização do campo é uma forma até mesmo de barrar o parcelamento irregular do solo. Hoje, o desvio de uso do solo — de produção agrícola para ocupação urbana — é um dos principais fatores que levaram à restrição hídrica do território. “Com a produção rural estruturada, conseguiremos frear o parcelamento irregular”, defende o secretário da Agricultura.
Recuperar a vegetação nas áreas degradadas da Bacia do Descoberto é outra atividade prevista no conjunto de ações apresentadas para o setor. O plantio de mudas na região, já promovido pelo governo de Brasília em parceria com a comunidade, será fortalecido. “A recomposição vegetal é fundamental para recuperarmos as nascentes”, destaca Leal. A estimativa é que a região do Descoberto tenha 224 nascentes, mas outras podem vir a ser identificadas por meio do trabalho de campo.
Edição: Raquel Flores