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05/02/2017 às 10:11, atualizado em 07/02/2017 às 15:06
Perda de recursos hídricos e erosão são alguns dos problemas que refletem degradação de áreas no entorno das unidades de conservação. Uma das causas é o parcelamento irregular do solo
Erosão, extinção de animais e diminuição da oferta de recursos hídricos são apenas o lado escancarado do desequilíbrio ambiental no Cerrado. A situação se revela também por meio do aparecimento de espécies exóticas ou do aumento desordenado de nativas nas unidades de conservação. Isso porque os efeitos do parcelamento irregular do solo e a pressão exercida pela urbanização do território são sentidas também dentro das áreas de proteção. Assim, fauna e flora ficam expostas a alterações profundas.
Há casos em que o simples aumento de indivíduos de uma espécie já é indício de desequilíbrio. Na Estação Ecológica Águas Emendadas, em Planaltina, por exemplo, a população da Trembleya parviflora, popularmente conhecida como quaresmeira, tem se expandido significativamente nos últimos anos. Ela é nativa do Cerrado, mas tem característica oportunista, ou seja, vale-se de mudanças ambientais para se consolidar.
A maior ocorrência da planta coincide com o processo de seca da vereda de 6 quilômetros que existe na área. Nela, a água aflora em diversos pontos, até formar os Córregos Brejinho, origem da Bacia do Paraná, e Vereda Grande, ponto de partida da Bacia Tocantins/Araguaia.
[Olho texto='”O manejo dessas espécies (exóticas) é desafiador, porque não podemos sair desmatando tudo”‘ assinatura=”Danielle Vieira Lopes, analista de Atividades de Meio Ambiente do Ibramesquerda
Por causa da criação de condomínios irregulares nos arredores da área de proteção, o solo tem sido impermeabilizado. O resultado é a redução da disponibilidade hídrica, condição adequada para a expansão da planta. “A vereda seca, e a Trembleya avança”, resume a analista de Atividades de Meio Ambiente do Instituto Brasília Ambiental (Ibram) Danielle Vieira Lopes.
Em outros casos, o desequilíbrio permite a invasão do bioma por espécies exóticas. Em Águas Emendadas, manchas de pinheiros e bambus tomam o espaço da vegetação nativa e atrapalham o desenvolvimento na região.
Outro exemplo são as gramíneas, como a Brachiaria decumbens, comumente chamada de capim-braquiária. Ela é usada na pecuária para alimentação do gado e, com a falta de manejo nos arredores das áreas de produção, acaba invadindo as unidades de conservação.
Situação semelhante ocorre com a leucena, cujo nome científico é Leucaena leucocephala. Natural da América Central, ela é cultivada para consumo do gado no DF. A espécie tem facilidade de disseminação e toma facilmente áreas de Cerrado, como na Área de Relevante Interesse Ecológico Granja do Ipê, no Park Way.
Embora a disseminação descontrolada seja um problema, em certas situações, a eliminação dessas espécies invasoras pode provocar um dano ainda pior. No caso da leucena, a retirada do rizoma — estrutura semelhante à raiz — exige escavação profunda.
O acesso descontrolado de cães e gatos às unidades de conservação representa um conflito com a fauna localdireita
No procedimento, o solo pode ficar bastante abalado. “O manejo dessas espécies é desafiador, porque não podemos sair desmatando tudo. Em certas áreas, são elas que favorecem a drenagem das águas pluviais e evitam que o solo fique desprotegido”, conta Danielle.
Com a introdução de plantas exóticas, as nativas perdem espaço e deixam de servir como fonte de alimento para a fauna local. “As exóticas não compõem a dieta dos animais. Há a quebra de elos”, explica a agente de Parque e Unidade de Conservação, da Coordenação de Fauna do Ibram, Marina Motta de Carvalho. O reflexo disso pode ser até mesmo a extinção de espécies.
Em outras situações, a espécie exótica ocupa o nicho da silvestre, a exemplo do coelho doméstico, que toma o lugar do Sylvilagus brasiliensis, o tapiti. “E é claro que o silvestre fica em desvantagem”, afirma Marina.
O acesso descontrolado de cães e gatos às unidades de conservação representa um conflito com a fauna local. Eles invadem áreas como o Parque Nacional de Brasília e a Águas Emendadas em grandes grupos e mordem tamanduás e pequenos roedores. “Quando encontramos as carcaças, vemos mordeduras no calcanhar e nas orelhas, o que demonstra que a atitude é só por diversão mesmo, não por fome”, explica Marina.
Uma forma de evitar a entrada desses animais nas unidades de conservação é incentivar a guarda responsável por parte da comunidade. “São animais que pertencem à comunidade, mas não têm um responsável definido”, destaca a agente de Parque e Unidade de Conservação. Para Marina, a educação ambiental é fundamental para controlar esse processo.
Além disso, há a necessidade de estimular a castração da população de cães e gatos que vivem no entorno de Águas Emendadas. “É uma população que se renova muito rapidamente, pois a maioria tem média de vida de dois anos”, diz.
Edição: Vannildo Mendes