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26/06/2017 às 09:10, atualizado em 27/06/2017 às 08:31
O agricultor Divino Fernandes Alves adotou sensores de irrigação e aspersores que usam menos água. Ele foi orientado em oficinas da Emater
Com menos água disponível desde o início da maior crise hídrica da história do Distrito Federal, produtores agrícolas apostam em soluções mais econômicas para manter os cultivos. Na chácara de Divino Fernandes Alves, de 63 anos, os morangos que antes eram irrigados diariamente agora recebem o cuidado a cada três dias.
“Percebi que a planta ficou até com um aspecto melhor”, avalia o agricultor, que adotou em 2017 um sistema de sensor para molhar a plantação apenas quando necessário.
Com a mudança, incentivada pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-DF), os cerca de 130 mil litros de água gastos diariamente para irrigar 1 hectare de morango caíram para 50 mil litros a cada três dias.
Neste novo modelo, a economia de água na lavoura pode chegar a 87% em um mês. “Como antes não tínhamos muita noção de que era preciso economizar, usávamos mais água do que precisava, e o solo encharcado não é bom para o cultivo”, explica Alves. A nova prática também poupa energia elétrica.
Na lavoura do produtor, a média de produção anual é de 25 mil quilos da fruta, ou cerca de 100 mil caixinhas. Em 2016, a qualidade da muda plantada e a crise hídrica fizeram com que a produção – que chega ao auge de julho a outubro – ficasse em menos da metade, cerca de 10 mil quilos.
Apaixonado pelo cultivo dos pequenos frutos vermelhos, ele conta que já plantou mais de dez espécies diferentes. “Não tem como enjoar.” Com a mudança de hábitos na lavoura, o agricultor acredita que 2017 será mais lucrativo para o setor, que aguarda ansiosamente pela Festa do Morango, prevista para setembro.
O sensor da lavoura de Alves foi instalado pela Emater-DF sob demanda. Na região onde fica a chácara, no Núcleo Rural Alexandre Gusmão, em Brazlândia, 75 deles participaram da oficina de manejo de irrigação. A última ocorreu na propriedade do agricultor e contou com 30 participantes.
Durante a oficina, o grupo aprendeu sobre manejo de irrigação. Entre os tópicos abordados pela equipe, estavam como eliminar vazamentos; a troca de materiais; e o treinamento para construção e instalação do sensor que indica quando a lavoura deve ser irrigada.
“Como antes não tínhamos muita noção de que era preciso economizar, usávamos mais água do que precisava, e o solo encharcado não é bom para o cultivo”Divino Alves, produtor rural em Brazlândiaesquerda
Desde 1996, a lavoura de Alves conta com o sistema de irrigação subterrânea por gotejamento e com hidrômetros, que também foram instalados com apoio da empresa pública.
Goiano de Ceres, ele veio para Brazlândia em 1991, onde iniciou com o cultivo de cenoura e outras raízes. Em 2000, começou a plantar morangos e passou a ser orgânico, modelo de produção que não usa nenhum tipo de agrotóxico.
Atualmente, a propriedade de cerca de 6 hectares conta com plantação de morango, batata, cebola, inhame e algumas frutas e hortaliças em menor quantidade.
Com a oficina da Emater, Alves também foi orientado a substituir os aspersores de água, usados para limpeza da lavoura, por outros que economizam cerca de 50% do recurso. “Já instalamos uma parte e continuamos a fazer a mudança de forma gradativa.”
Desde o início da crise hídrica, a empresa avaliou propriedades rurais em Brazlândia e Ceilândia e elaborou 327 planos de manejo nas chácaras, com o objetivo de melhorar a captação e a utilização da água na atividade agrícola, com menor impacto na produtividade.
A empresa capacitou cerca de 80 produtores e planeja atividades semelhantes para o segundo semestre em outras regiões rurais do DF.
Além do apoio do governo, Alves quer incrementar a tecnologia na lavoura e economizar mais. Um dos filhos dele está desenvolvendo um aplicativo para celular que avisará quando a lavoura precisa ser irrigada. “Assim, fica tudo sistematizado e não gastaremos uma gota d’água à toa”, aposta.
Edição: Marina Mercante