22/08/2017 às 18:07, atualizado em 23/08/2017 às 09:32

Servidores que ganham até R$ 7,5 mil receberão salário de agosto integralmente

Quem ganha acima desse valor líquido (22% do funcionalismo) terá a diferença paga em 15 de setembro. Na busca do equilíbrio financeiro, governo decidiu contingenciar R$ 544 milhões do orçamento, cobrar débitos da União e propor a criação de novo sistema para a Previdência do DF

Por Saulo Araújo, da Agência Brasília

Mesmo diante da crise econômica nacional sem precedentes no País e que afeta diretamente o Distrito Federal, o governo de Brasília conseguirá pagar integralmente os salários de agosto de servidores que recebem até R$ 7,5 mil líquidos. Isso representa 78% do funcionalismo (155.826 mil).

De acordo com estudos conduzidos pela equipe econômica, para aqueles que ganham acima desse valor (44.953 mil servidores — 22% do total), a diferença será depositada em 15 de setembro. A segurança pública é a única área que ficará de fora da divisão de salários, uma vez que é 100% custeada pelo Fundo Constitucional do DF.

A possibilidade do parcelamento foi anunciada na tarde desta terça-feira (22), na Residência Oficial de Águas Claras (Roac), pelo chefe do Executivo, Rodrigo Rollemberg, e pelos secretários que compõem a Governança do DF.

“Diante do nosso compromisso de transparência com a população de Brasília, tivemos de fazer esse anúncio. Por uma questão de justiça, optamos pelo parcelamento com base no corte de renda, e quem ganha até R$ 7,5 mil líquidos receberá o salário normalmente até o quinto dia útil”, declarou Rollemberg.

Para garantir o equilíbrio fiscal do DF e assegurar o pagamento da folha, o governador anunciou três medidas: contingenciamento do orçamento, cobrança de débitos da União e proposta de um novo sistema para a Previdência.

O contingenciamento refere-se a R$ 544 milhões de despesas já previstas no orçamento de 2017, mas que terão de ser represadas. Apenas a Educação e programas com repasses obrigatórios, como o DF Sem Miséria e o Passe Livre, não serão afetados pelo corte orçamentário.

Embora o DF tenha feito um dos maiores ajustes fiscais dos últimos anos em relação a administrações anteriores, a recessão da economia nacional inviabilizou o equilíbrio das contas públicas.

A situação poderia ter sido amenizada caso a União tivesse repassado ao DF R$ 791 milhões a título de compensação previdenciária.

O montante acumulado de 1988 a 1999 refere-se a pessoas que trabalhavam na iniciativa privada e passaram em concursos públicos da administração distrital. Nessa transferência, pararam de contribuir pelo Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), e o governo de Brasília acabou arcando com todos os custos.

A Lei Federal nº 9.796, de 5 de maio de 1999, estabeleceu que o governo federal deve pagar os valores de compensação previdenciária, o que ainda não ocorreu.

Brasília também espera que o governo federal cumpra duas decisões do Tribunal de Contas da União (TCU) e transfira R$ 380 milhões de aposentadorias da segurança pública.

Havia entendimento por parte do governo federal de que esses recursos — referentes aos sete primeiros meses de 2017 — deveriam ficar retidos no Ministério da Fazenda, mas o TCU decidiu que, como integram a rubrica do Fundo Constitucional, pertencem ao DF.

Proposta de novo regime previdenciário

O Executivo vai encaminhar à Câmara Legislativa um projeto de lei complementar (PLC) que propõe um novo sistema para a previdência dos servidores públicos distritais.

O PLC criará uma previdência complementar obrigatória para os novos servidores e uma opcional para os que já estão no quadro. Com isso, a tendência é que seja reduzida a pressão dos gastos com aposentadorias.

Medidas evitaram cenário pior

Com o aprofundamento da crise econômica, o governo de Brasília implementou medidas que garantiram a manutenção dos serviços públicos e o pagamento em dia aos servidores, diferentemente do que ocorre em outras unidades da Federação.

A modernização do setor de cobrança da Secretaria de Fazenda fez a pasta recuperar 52,39% de todos os débitos enviados a contribuintes inadimplentes em 2016.

Em valores, significa que, dos R$ 3,7 bilhões de dívidas reclamadas no ano passado, R$ 1,9 bilhão foi pago à vista ou parcelado.

A fim de reaquecer a economia local, o governo duplicou o número de analistas na Central de Aprovação de Projetos, da Secretaria de Gestão do Território e Habitação, o que tornou mais céleres a análise e as autorizações de processos relacionados à abertura de médios e grandes empreendimentos.

Outra forma criativa do governo para recuperar receitas foi o uso da aerofotogrametria —  que usa fotos aéreas para atualizar o tamanho das construções no DF — para recalcular o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). 

Edição: Raquel Flores