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17/12/2017 às 10:03, atualizado em 18/12/2017 às 10:13
Iniciativa nasceu do projeto Luz & Autor em Braille, que incentiva pessoas com deficiência visual a criar as próprias obras literárias. Em 22 anos de atuação, já foram produzidos mais de 800 textos
As ações desenvolvidas na Biblioteca Braille Dorina Nowill, em Taguatinga, ganharam um peso maior neste ano. A primeira Academia Inclusiva de Autores Brasilienses foi fundada com o intuito de promover a obra literária de pessoas com deficiência visual no País e no mundo.
A iniciativa nasceu do projeto Luz & Autor em Braille, desenvolvido há 22 anos na biblioteca. Com mais de 800 trabalhos produzidos, o local não só proporciona acesso à leitura para os que não enxergam ou têm baixa visão, como também os estimula a produzir os próprios textos.
Desde a criação da biblioteca, em 1995, o projeto já integra 83 autores com deficiência visual com outros escritores que atuam como voluntários. Em 2010, o projeto lançou o livro Revelando Autores em Braille, que traz um compilado de histórias e poemas escritos de forma inclusiva.
Coordenadora da biblioteca, Leonilde Fontes acredita que a criação da academia é o coroamento do trabalho de 22 anos. “É a efetivação do projeto que vem sendo desenvolvido ao longo desses anos”, diz.
[Olho texto='”É um ambiente de transformação. As pessoas começam a renascer de um lugar que não esperavam. Entram para a faculdade, começam a trabalhar, se tornam autônomas e independentes”‘ assinatura=”Leonilde Fontes, coordenadora da Biblioteca Brailleesquerda
Fundadora e presidente da academia inclusiva, Dinorá Couto não esconde o entusiasmo de poder levar reconhecimento aos autores com deficiência visual, que muitas vezes não têm a oportunidade de mostrar seu trabalho. “Nunca pensei que eu tivesse um poder tão grande e fácil de resolver nas mãos, que é dar alegria a essas pessoas.”
Umas das 83 escritoras do projeto, Noeme Rocha equipara a Academia Inclusiva de Autores Brasilienses, da qual é vice-presidente, a qualquer instituição acadêmica literária.
Dinorá conta que até pelerines foram confeccionados para a posse dos membros. “Fizemos a logo bordada para que os deficientes possam sentir e saber o que está ali”, comenta.
Outra novidade é que a academia inclusiva não ficará restrita a participantes do DF. A fundadora conta que tem membros do País inteiro e até participantes internacionais vindos dos Estados Unidos, Portugal, Itália e França.
A Biblioteca Braille Dorina Nowill surgiu em 1995, após a Secretaria de Cultura receber 2 mil livros em braille da Fundação Dorina Nowill. No entanto, para atender esse tipo de público, carecia-se de um atendimento especial à altura da assistência de que um deficiente visual precisa.
Criada com base nessa necessidade, a biblioteca, no primeiro momento, foi instalada em uma sala de aula na Escola Classe 6 de Taguatinga. Com o intuito de promover acesso à literatura de pessoas com necessidades especiais, o espaço também oferece mais de 900 áudios de livros.
A academia inclusiva já tem membros do Brasil inteiro e de países como Estados Unidos, Portugal, Itália e Françadireita
Os deficientes visuais têm ainda à disposição aulas de reforço, informática, dança e braille. A coordenadora da biblioteca, Leonilde Fontes, conta que o trabalho impacta diretamente a vida dos frequentadores. “É um ambiente de transformação”.
Para ela, o espaço promove novos despertares de pessoas que não têm mais perspectiva nenhuma de vida, nem expectativa. “Elas começam a renascer de um lugar que eu acho que nem elas mesmo esperavam, entram para a faculdade, começam a trabalhar, se tornam autônomas e independentes”, afirma Leonilde.
Frequentadora assídua da biblioteca desde o começo do ano, Valdeli Rodrigues conta que o espaço trouxe um outro estilo de vida para ela. “Eu só tenho 15% da visão, e poder estar em um local onde o deficiente é incluído é maravilhoso”, conta ela que teve a perda da visão gradativa por causa do glaucoma.
“Eu só vim me dar conta de que eu tinha baixa visão neste ano. Até então, eu tinha um outro estilo de vida. A biblioteca é que foi me orientando, me incluindo nas atividades. E isso é ótimo, a autoestima da gente cresce, tem um órgão que pensa na gente.” Valdeli conta que na biblioteca pode aprender a escrever e a ler em braile e a se adaptar à realidade que ainda é novidade para ela.
A coordenadora da biblioteca explica que um dos principais pilares do local é resgatar essa autoestima. “Eu considero que a maior missão que a gente tem aqui não é emprestar livro, nem a leitura. Para isso acontecer, o resgate da autoestima é fundamental. Porque, depois que foi retomado isso, aí a pessoa vai querer ler, vai querer estudar, querer escrever, e aí pronto, ela está viva.”
Vinculada à Secretaria de Educação, a Biblioteca Braille Dorina Nowill está atualmente instalada no Complexo Cultural de Taguatinga, ao lado da Biblioteca Machado de Assis, e atende cerca de 90 deficientes assíduos.
Edição: Vannildo Mendes