23/12/2018 às 09:05, atualizado em 23/12/2018 às 18:36

Policiamento montado é parte estratégica na segurança pública

Aproximadamente 240 cavalos acompanham atividades da Polícia Militar do DF. Em rotina diária, policiais criam laços que são mantidos mesmo após a aposentadoria dos animais

Por Vinícius Brandão, da Agência Brasília

Os mais de 200 cavalos que trabalham nos Regimentos de Polícia Montada da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) são parte estratégica na segurança pública da cidade. Em parceria com os policiais, os bichos atuam tanto no policiamento rotineiro quanto em operações de choque.

Cerca de 30 cavalos passam por dia pelo Centro de Medicina Veterinária da PMDF para trocas de bandagens e de ferraduras. Foto: Andre Borges/Agência Brasília. 3/1/2018

Nos casos mais sérios, o centro cirúrgico é acionado. As intervenções mais comuns são por cólicas intestinais e envolvem cirurgias consideradas invasivas, pois expõem intestinos a possíveis infecções.

“É como o apêndice no humano. Se não cuidar logo, pode levar à morte”, explica o major Renato Fonseca Ferreira II, chefe da unidade.

Se precisarem de cirurgia, os cavalos são levados para uma câmara escura e com vedação acústica — esses cuidados são para evitar estímulos sensoriais que os assustem.

As paredes e o chão são amortecidos para que eles não se machuquem durante o processo de anestesia geral. Depois, uma grua os levanta pelas patas e os leva para uma mesa de cirurgia especial.

Cerca de 30 cavalos passam por dia pelo Centro de Medicina Veterinária da PMDF para trocas de bandagens e de ferraduras. Para os processos cirúrgicos, a média é de uma intervenção por mês.

Depois de aposentados, por volta dos 20 anos, os animais são soltos no primeiro regimento e recebem cuidados médicos. Não participam mais de treinamentos e têm total liberdade para circular no espaço.

Reforço importante na segurança pública

Os equinos da Polícia Montada do DF têm funções diferentes. “Alguns são usados em grupos de policiamento ordinário e outros para operações de choque”, diferencia o comandante do Comando de Policiamento Montado da PMDF, coronel Fernando d’Austria e Caravellas Filho.

[Numeralha titulo_grande=”935″ texto=”Ocorrências atendidas pelo Comando de Policiamento Montado do Distrito Federal em 2018esquerda

O 1º Regimento de Polícia Montada, no Riacho Fundo I, reúne a maior parte dos animais e atua no patrulhamento de regiões administrativas.

No Parque da Cidade, próximo ao Pavilhão de Exposições, fica o 2º Regimento de Polícia Montada, responsável por policiar a área do parque urbano e de espaços do centro do Plano Piloto, além das operações de choque montado.

Todos os cavalos são da raça chamada brasileiro de hipismo, criada no País por meio da mistura de espécies europeias. A escolha é porque eles são dóceis e fortes para aguentar as situações do policiamento, o que contribui para o controle da cavalaria.

“O cavalo tem a força média de 5 a 6 homens e pesa 500 quilos”, compara o comandante. Segundo ele, o comando atendeu, em 2018, 935 ocorrências.

Entre as ações e os resultados estão:

  • 776 pessoas detidas
  • 499 detenções por uso e porte de drogas
  • 433 notificações de trânsito
  • 198 mandados de prisão
  • 27 operações em ocupação irregular de área pública

Treinamento básico é o mesmo para todos

O treinamento básico é o mesmo nos dois regimentos. No entanto, ele é mais regular no grupamento de choque montado. “Porque eles agem diretamente em distúrbios, com bombas, gás, bandeiras, multidão”, detalha o comandante.

No choque há ainda treinos para dessensibilizar os equinos de certos estímulos e para revisar movimentos importantes em casos de dispersão.

Segundo o capitão Elias Ferreira, membro do destacamento desde 2010, o primeiro trabalha com sons de explosões, fumaça e objetos que podem causar medo.

O segundo consiste em acostumá-los às formações. Eles ficam em linhas e colunas de acordo com cada situação que possam enfrentar. De acordo com o capitão, os mais novos respeitam e seguem os mais velhos, o que é útil no treinamento.

[Olho texto='”Colocamos sempre um cavalo mais experiente com um jovem. Assim eles passam confiança, e o grupo segue uniforme”‘ assinatura=”Capitão Elias Ferreira, do 2º Regimento de Polícia Montada do DFdireita

Os equinos da corporação são adquiridos por licitação, com base na necessidade. Eles já chegam domados, com idades de 4 a 7 anos, prontos para o adestramento. O sexo não influencia na escolha.

Os primeiros foram comprados pela Polícia Militar do DF na década de 1980. Aqueles que nascem no regimento vivem soltos até completarem 3 anos e 6 meses — momento em que é iniciada a domesticação.

Essa fase é quando eles são acostumados com o convívio humano. É o caso de Aurora. A égua fica livre para passear, e os oficiais brincam com ela para prepará-la para aceitar pessoas na rotina.

Passeando entre as baias, a potra encontra o major Ferreira II. O veterinário faz carinho nela. “Isso já é a domesticação. Ela aprende a lidar com o contato humano e fica dócil.”

Depois de domesticados, os potros passam pelo treinamento básico. Baseado nas performances, são direcionados para o serviço mais adequado.

Policiamento montado tem 36 anos no DF

Em 23 de junho deste ano, o Comando de Policiamento Montado do DF completou 36 anos. Ele foi idealizado pelo coronel Francisco Leite Rabelo Neto, que dá nome ao primeiro regimento.

O coronel Egêo Correa de Oliveira, que criou o núcleo de policiamento montado como parte do 2º Batalhão de Polícia Militar, é homenageado no nome do segundo regimento.

Atualmente, os dois locais têm cerca de 300 policiais e também desenvolvem atividades de hipismo e equoterapia.

Como têm preparação de alto nível, os equinos também participam de competições, além de atuar no policiamento da cidade. Já os destacados para a equoterapia — por serem mais dóceis e não apresentarem riscos aos pacientes — trabalham exclusivamente nesse tipo de serviço.

Edição: Amanda Martimon