29/04/2019 às 14:45, atualizado em 02/05/2019 às 12:19

Servidores da Agência do Trabalhador aprendem libras

Iniciativa inédita da Setrab deve ser expandida para outras secretarias do governo

Por Lúcio Flávio, da Agência Brasília

Servidores da Secretaria do Trabalho do DF estão aprendendo uma nova língua. Nada a ver com idioma estrangeiro, mas um canal de comunicação que propõe derrubar as barreiras do preconceito, visando a inclusão social. Lançado na última quinta-feira (25/04), o Programa de Capacitação Contínua dos Servidores do órgão vem qualificando voluntários na Língua Brasileira de Sinais (libras).

A ideia é proporcionar um atendimento humanizado e eficiente aos milhares de deficientes auditivos que procuram diariamente os serviços das 17 agências de trabalho espalhadas pelo DF. Se tudo der certo, a proposta é apresentar essa iniciativa inédita a outras secretarias. “Qualquer iniciativa em defesa da inclusão social e socialização tem que ser vista com bons olhos”, defende o secretário da Setrab, João Pedro Ferraz. “Ao percebemos essa necessidade, alguns servidores da secretaria se voluntariaram no projeto, então nós encampamos a iniciativa e demos todo o suporte”, conta o gestor.

Num primeiro momento, o programa que tem a duração de uma semana, vai capacitar 16 gerentes de várias unidades do Trabalhador DF nessa primeira turma. O plano é que mais adiante todos os atendentes passam pela capacitação onde estarão aptos a dar informações básicas, em libras, dos serviços essenciais oferecidos pelas unidades. São demandas pontuais como emissão de documentos, direcionamento para o mercado de trabalho, informações sobre o seguro desemprego. Segundo o secretário, a meta é qualificar o maior número possível de profissionais.

“Queremos que esses voluntários se tornem em multiplicadores da ação até formar um grupo que atenda todas as unidades”, destaca.

As mudanças vão além da parte pedagógica, já que todas as unidades da Agência do Trabalhador DF se adaptarão também fisicamente para atender os cidadãos portadores de deficiência. “O curso de libras é só o pontapé inicial, as agências também vão sofrer alterações na parte estrutural, recebendo placas em braile e pisos táteis”, antecipa o subsecretário da Setrab, Vicente Goulart.

Agentes transformadores

Gerente de Planejamento e Estratégica de Qualificação da Setrab, Tatiana Leite explica que a iniciativa pode ajudar a promover a acessibilidade nas empresas do DF, já que muitas delas, parceiras da Setrab, não estão preparadas para atender funcionários que têm algum tipo de necessidade especial. Das 732 firmas do DF obrigadas a cumprir a reserva legal de cotas, apenas 240 conseguem atingir 100% da meta. Segundo dados do Ministério do Trabalho, atualmente existem mais de 570 mil pessoas com algum tipo de deficiência no Distrito Federal.

“O público de deficiente auditivo é muito grande em Brasília, pode ser que a iniciativa privada também entre nesse programa. O cidadão quer trabalhar, mas às vezes não tem alguém de libras nas empresas para fazer essa comunicação, entender o que ela está falando”, observa.

Servidor da Agência do Trabalhador da Estrutural, Mário Mendes, um dos voluntários do Programa de Capacitação Contínua dos Servidores da Setrab, diz que fazer parte de iniciativa inclusiva é funcional para os portadores de necessidades especiais e engrandecedor para quem aprende. “Somos voluntários na arte de aprender, é um aprendizado para a vida inteira”, avalia. “Comunicação é importante. É muito frustrante alguém tentar se fazer entender e não conseguir resposta. Por isso  o nosso papel nesse projeto é tão relevante”, destaca.

Já a professora do curso, Jane Ferreira, a experiência é pertinente não apenas porque propicia acessibilidade a essa parcela significativa da sociedade, mas por fazer dos voluntários, valorosos agentes transformadores da sociedade. “Tem que saber se comunicar nem que seja o básico, o mínimo e não ser apenas um tradutor de ‘português mímico’. Muita gente confunde libras com mímica, mas é muito mais do que isso, é uma experiência transformadora”, conclui ela, que aprendeu a linguagem dos sinais quando lidava com mulheres vítimas de violência doméstica. “Sempre tinha uma no grupo que era portadora de necessidades especiais. Então, para poder me comunicar melhor com todas, resolvi aprender a falar com elas”, diz ela, sem se arrepender.