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30/01/2020 às 10:22, atualizado em 30/01/2020 às 16:39
Conheça outros grandes arquitetos que ajudaram na construção da capital. É nos blocos residenciais, especialmente os da Asa Sul, que aparece a variedade de nomes
Em todos os edifícios residenciais projetados por Niemeyer, um elemento se repete: os cobogós, aqueles buraquinhos nas fachadas dos prédios da Asa Sul e da Asa Norte. Muitos brasilienses até podem não saber o nome, mas reconhecem esse diferencial em qualquer fotografia da cidade.
Invenção pernambucana da década de 1930, o cobogó acabou se tornando marca de Brasília e foi usado por inúmeros arquitetos em seus projetos. O nome cobogó é formado pelas iniciais dos sobrenomes de seus criadores, então donos de uma fábrica de tijolos: Amadeu Oliveira Coimbra (co), Ernest August Boeckmann (bo) e Antônio de Góis (go).
Os cobogós são blocos vazados de cimento que, além do efeito estético, permitem a circulação de ar e a entrada de luz no edifício. Em Brasília, foram usados como forma de vedar o edifício para adequá-lo às condições climáticas do país, nem frio nem quente demais.
“O ar entra e sai do outro lado”, explica Cláudio Queiroz. “Eles trazem essa possibilidade de vedar sem fechar e impedir a circulação de ar”. Segundo ele, Niemeyer usou os cobogós mais simples, pequenos, pré-fabricados e mais baratos.
Colegas de Niemeyer
Muitos dos arquitetos que vieram para Brasília nos primeiros tempos e ajudaram a erguer a capital trabalharam ao lado de Niemeyer – que, segundo Coutinho, contou com colaborações de grandes talentos da arquitetura brasileira. “Alguns mais jovens, recém-formados, outros mais velhos”, conta o professor. “Falam que Brasília é do Niemeyer, e não é. Primeiro, o projeto urbanístico é do Lucio Costa. Depois, parece que Niemeyer fez tudo sozinho, e não é verdade. É preciso fazer justiça”.
Nauro Esteves, que era chefe do Departamento de Arquitetura e Urbanismo (DAU) da Novacap, atuou como assessor imediato de Oscar. Nenhum outro arquiteto, depois de Niemeyer, deixou tantos riscos no quadradinho quanto ele. São de Esteves, entre outros, prédios icônicos da cidade, como o Conjunto Nacional, o Hotel Nacional, o Palácio do Buriti e a sede da Polícia Militar (no Setor Policial Sul).
Em entrevista ao Programa de História Oral, do Arquivo Público do DF, Nauro reconheceu que “nada nessa cidade” deixou de passar por suas mãos – pelo menos período entre 1956 e 1968, quando ele deixou a Novacap.
A maioria dos brasilienses desconhece o nome do arquiteto que projetou o seu prédio, mas alguns deles aprenderam a valorizar a riqueza arquitetônica que garante qualidade de vida para o seu dia a dia.
O casal de servidores públicos Rafael, 40 anos, e Alice Della Nina, 36, morava em um apartamento de 80 metros quadrados no Guará II e passou a procurar um novo lar quando a família estava prestes a crescer.
Eles começaram procurando apartamentos em prédios com assinatura de Hélio Uchôa, que trabalhou no escritório de Lucio Costa e elaborou os projetos das SQS 105 e 305, além da sede da Petrobras em Brasília. Na 105 Sul foram projetados dez blocos, sendo oito com 288 apartamentos de três quartos e dois com 48 apartamentos de quatro quartos.
Os acabamentos dos edifícios são finos e a fachada principal é caracterizada pelas esquadrias e venezianas de madeira. Na fachada posterior, predominam os cobogós de cerâmica vermelha, lembrando os utilizados por Lucio Costa no Parque Guinle, no bairro do Flamengo, no Rio de Janeiro.
Durante a procura, o casal acabou descobrindo o mineiro Marcílio Mendes Ferreira, que, como funcionário do Departamento de Engenharia da Caixa Econômica Federal encarregado de promover a construção de residências para os funcionários transferidos para a capital, surgiu como um dos principais arquitetos de Brasília. Ele fez inúmeros projetos de edifícios de apartamentos entre 1973 e 1982.
Qualidade de vida
O tesouro fica nos ambientes da frente do apartamento vazado. As janelas da sala foram substituídas por portas de correr com pequenos módulos basculantes na parte superior. As portas de vidro se abrem para um pequeno jardim seguido por uma parede de cobogós que compõe a fachada principal do prédio.
O jardim se estende por todo o apartamento, sendo interrompido apenas por pequenas varandas que ocupam um módulo de quebra-sóis. Não há divisórias, e é possível passar da sala para o quarto por esse espaço.
O casal sabe que vive em um prédio diferenciado e valoriza o patrimônio histórico e arquitetônico onde vive. Alice conta que, além da estética, o prédio é funcional. “Os cobogós e o jardim dão conforto térmico e acústico. Basta abrir essas janelas basculantes para refrescar todo o apartamento”, diz. Segundo Rafael, os vizinhos também reconhecem a importância do edifício.
“Estamos reformando as fachadas e todo mundo se prontificou a pagar mais caro e trazer a pastilha original de São Paulo para não descaracterizar o prédio”, conta.
Marcílio também projetou os 11 blocos da SQN 206. A elaboração dos projetos e a preparação da licitação foi feita em apenas três meses. Cada prédio tem 36 apartamentos de cerca de 120 metros quadrados.
O arquiteto mineiro buscou racionalizar o processo construtivo por meio da modulação e da utilização de elementos pré-moldados, marca das obras de Oscar Niemeyer e de João Filgueiras Lima – mais conhecido como Lelé –, um dos grandes nomes da arquitetura moderna brasileira e que também deixou sua marca em Brasília.
Ambos utilizaram esse recurso para construir as primeiras edificações da Universidade de Brasília (UnB), como o Minhocão. Lelé também assina os projetos dos hospitais da Rede Sarah, em Brasília e no Brasil inteiro, do Hospital Regional de Taguatinga (HRT) e do Beijódromo, o Memorial Darcy Ribeiro, na UnB.
Os dois vistosos edifícios do Setor Comercial Sul, o Morro Vermelho e o Camargo Correa, com as brises coloridas de concreto pré-moldado, também são dele, assim como os blocos da Colina, na UnB.