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12/04/2020 às 16:20
Servidores mantêm empenho na linha de frente da pandemia, mas não escondem medo com a nova rotina de atendimentos que assumiram
A médica fala com muita segurança sobre o processo de trabalho. Mas, ao comentar sobre as mudanças que precisou fazer no ciclo familiar, não consegue conter o choro. “Estou mais fragilizada como mãe do que como médica. Porque, no trabalho, a gente monta o cenário, traça as estratégias e vai para cima. Em casa, com filhos adolescentes sempre proativos, não sei como estão processando isso e me preocupo do ponto de vista emocional e psicológico”, desabafa.
Mãe de três filhos, com idades de 8, 13 e 16 anos, Milena conta que precisou reorganizar tudo em casa. Ficou com apenas uma das empregadas, a que cuida das crianças, já que o marido também é médico e atua no Hospital de Base. A saudade da mãe também aperta.
“Toda sexta-feira ela buscava meus filhos na escola e ia almoçar com a gente. Agora, só podemos nos ver pelas chamadas de vídeo”, conta, com a voz embargada.
Em casa, precisou desenvolver novas tarefas, como cuidar do jardim, da piscina e até mesmo cortar os cabelos dos filhos.
A enfermeira Gabriela Alves Rodrigues tomou uma atitude ainda mais severa: está longe do marido e dos filhos há pouco mais de 20 dias. Ela está em casa, sozinha, enquanto o restante da família foi morar com a sogra. “Não tem sido fácil”, resume.
Ela conta que, no trabalho, muita coisa também mudou. Além dos treinamentos constantes, o medo e a angústia passaram a fazer parte da rotina. “Pensamos, o tempo todo, que nossos familiares e colegas de trabalho podem adoecer e até morrer por isso”, destaca, acrescentando que recebe apoio psicológico no Hospital de Base, onde trabalha.
Gerente de Assistência Clínica no Hospital Regional da Asa Norte, referência para atendimento da Covid-19, a médica Francielle Pulcinelli Martins conta que oscila os pensamentos entre a normalidade e o medo.
“A rotina no Hran sempre foi pesada, com muitos atendimentos. Mas, agora tem o medo como agravante, pois sabemos que o vírus é extremamente contagioso. Temos medo, mesmo tomando todos os cuidados”, observa.
Ela conta que se distanciou de familiares e amigos. “Foi a decisão mais sensata, já que estou na linha de frente. Para amenizar essa situação, faço vídeo chamada para eles quando estou de folga. Não é a mesma coisa de tê-los pessoalmente, mas é o que tem me ajudado no quesito saudade”, conta.
Para diminuir a pressão, ela diz que tem buscado alívio na espiritualidade, contato com plantas e animais, lendo sobre assuntos diversos. “Faço terapia online, exercícios físicos em casa e tento refletir sobre o que tudo isso tem a nos ensinar. O momento é delicado e exige serenidade e equilíbrio dos profissionais de saúde. É preciso apreender, desaprender, construir, reconstruir, inventar, reinventar e, principalmente, ressignificar. Acredito que depois do coronavírus seremos humanos e profissionais melhores”, finaliza.
Também no Samu, o condutor de viaturas Cleiton Souza conta que a rotina de trabalho mudou com a chegada do novo vírus. “O núcleo de educação sempre abordou uso de equipamento de proteção individual, mas agora aumentou a preocupação no retorno à base, preocupando com a higienização de utensílios e móveis”, conta.
O retorno para casa, onde mora com esposa e uma filha, também passou a ter cuidados a mais. “Troco a roupa, ainda na base, ao fim do expediente e levo para casa, separada em uma sacola. E já coloco para lavar imediatamente”, detalha. Ele conta que também tem buscado coisas para aumentar a imunidade, como melhorar alimentação.
* Material originalmente publicado no site da Secretaria de Saúde