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28/04/2020 às 13:23, atualizado em 12/05/2020 às 16:15
O espaço cultural mantém oficinas profissionalizantes e preservação do legado candango
Inaugurado no dia 26 de abril de 1990, com o objetivo de preservar o legado deixado pelos candangos na época da construção de Brasília, o Museu Vivo da Memória Candanga (MVMC) celebrou seus 30 anos no último domingo (26).
O espaço cultural da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal (Secec), que ocupa as dependências do primeiro centro de saúde da cidade, o Hospital Juscelino Kubitscheck (HJKO), surgiu com a tarefa de manter viva a tradição do povo simples e sonhador, que acreditou no projeto do presidente JK e se empenhou em erguer a nova capital do Brasil.
Este espaço reúne histórias de diversas famílias tomaram rumo diferente do que imaginaram urbanistas, engenheiros, missionários, políticos e arquitetos que idealizaram a nova cidade. Em meio a pequenas vilas empoeiradas, constituídas basicamente por acampamentos de lonas, consolidava-se a trajetória livre de jovens aventureiros que, ao “tentar a sorte”, se acomodaram e deram vida aos vilarejos Lonalândia, Cidade Livre e Vila do Iapi.
À época da construção, as casas de madeira que abrigavam o HJKO e seus alojamentos eram as únicas estruturas prontas entre as diversas obras em andamento espalhadas pelo planalto descampado.
Dentro dessa atmosfera nostálgica, que guarda as lembranças dos primeiros habitantes de uma cidade que estava apenas no papel, o antigo hospital se tornou um museu que leva o atributo de “VIVO”.
O espaço iluminado, alegre e interiorano carrega a genuína identidade acolhedora do povo brasileiro. Aos visitantes, o espaço fala por si só, com uma verdadeira aula de história com cenários, fotos e mobílias antigas, representando o suor dos corajosos trabalhadores que começaram uma vida e uma cidade do zero.
Nestes 30 anos, o Museu Vivo se tornou referência de atividades pedagógicas prestadas à comunidade, seja por meio da capacitação da população a partir de antigos saberes – que garantiram parte da renda dos povos candangos -, seja por atividades extraclasses voltadas para estudantes do ensino fundamental, que propiciam às crianças noções de educação patrimonial e pertencimento cultural e social.
Assim, o Museu Vivo é lembrado diariamente por histórias, memórias e relatos emocionantes. De acordo com um dos autores dos primeiros cliques do tempo da construção, Joaquim Paiva, suas fotos expostas no local não só eternizaram momentos importantes e decisivos do nascimento de Brasília, mas captou a esperança no olhar de cada pioneiro refletido em suas imagens.
“Sinto-me honrado por ter fotografias minhas no acervo do museu, que tem imagens tão importantes e belas feitas por fotógrafos como Mario M. Fontenelle, um pioneiro em Brasília”, conta.
“Felicito em especial todos aqueles que muito trabalharam e contribuíram para a existência deste museu, e espero que o Governo do Distrito Federal continue a manter e valorizar o Museu Vivo da Memória Candanga, em suas diversas atividades, e incentive a preservação e o enriquecimento da sua coleção, para o bom conhecimento e desfrute das novas gerações”, manifestou Joaquim Paiva, com votos de vida longa ao espaço cultural.
Com sua habilidade quase mágica em fazer pessoas viajarem no tempo, o Museu Vivo também desperta a emoção em quem veio pra capital ainda criança. Faz parte dessa história o técnico em telecomunicações Victor Alves, trazido pelos pais, os pioneiros João Batista e Lezi, que em 1960 saíram de Anápolis-GO com destino a Brasília em busca de melhores oportunidades.
“Minha mãe era empregada doméstica, e meu pai, motorista em Anápolis. Chegando na Cidade Livre, meu pai conseguiu um emprego na Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), no transporte de funcionários para as obras. Aqui eles encararam um desafio, certos que criariam seus filhos com dignidade”, conta.
Alves também destaca a perseverança com que os pais enfrentaram as dificuldades ao chegar aos alojamentos, o que pode ser notado com clareza, segundo ele, na exposição permanente “Poeira, Lona e Concreto”. “Quando visito o Museu Vivo, lembro nitidamente da minha infância. Cresci junto com a cidade e enxergo a ousadia que meus pais tiveram em acreditar em uma nova vida. O sonho virou realidade”, celebra.
Foco na capacitação para a comunidade
De acordo com a gerente do Museu Vivo da Memória Candanga, Eliane Falcão, o aniversário do centro cultural vai além da simples comemoração de três décadas. Estão no radar da gerente a reativação do curso de marcenaria e novas modalidades para as Oficinas de Saber Fazer. “O nosso museu é o único do Distrito Federal que reúne os ofícios trazidos pelos candangos. Implantaremos atividades clássicas manuais como fuxico e crochê”, explica.
Para Eliane, o museu carrega a responsabilidade de promover e manter o orgulho da população local. “Este território é vivo de histórias e ensina que Brasília se fez pelas mãos de um povo sonhador”, destaca.
* Com informações da Secretaria de Cultura e Economia Criativa