30/01/2021 às 13:06, atualizado em 31/01/2021 às 11:15

A história de luta dos primeiros heróis vacinados contra o coronavírus

Momentos de dor e resiliência vividos por profissionais da linha de frente dão lugar à esperança por dias melhores

Por Agência Brasília* | Edição: Mônica Pedroso

Nádia Bueno, enfermeira, foi realocada várias vezes durante a pandemia | Foto: Divulgação/Iges-DF

Com o passar do tempo e com novas informações sobre a doença, a turbulência de sentimentos foi abrandando, e Josilene ganhou mais confiança. “Hoje eu encaro a Covid-19 como uma doença transmissível como outras que precisam ser respeitadas e prevenidas, mas sem medo”, diz.

Grata por ter sido uma das primeiras contempladas com a vacina, Josilene dedicou o momento à memória dos colegas que partiram. “Muitos deles não conseguiram chegar até aqui, mas devem ser lembrados por terem dedicado suas vidas para salvar outras vidas”, ressalta a enfermeira, imunizada com a primeira dose da CoronaVac na última quarta-feira (20), segundo dia de vacinação no Distrito Federal.

“Apesar dos problemas, tudo foi muito bom porque cresci profissionalmente e aprendi muito como ser humano.”Nádia Bueno, enfermeira

Um dia antes, o técnico de enfermagem Aguinaldo Vaz de Oliveira, 53 anos, havia se tornado o primeiro colaborador do Iges a receber a CoronaVac. Ele é responsável por acompanhar o fluxo de pacientes infectados que precisam de assistência no Pronto-Socorro do Hospital Regional de Santa Maria (HRSM). “Ver um paciente infectado receber alta é sempre um momento de alegria”, afirma. “E saber que daqui para frente vamos conseguir, cada vez mais, reduzir o número de infectados é melhor ainda.”

Após um mês atuando no ambulatório do HRSM, Aguinaldo foi convidado pela gestão do hospital para trabalhar na linha de frente do pronto-socorro. “Em abril, aceitei o desafio”, relata. “Muitas pessoas opinaram dizendo que não era uma boa ideia, mas eu pensava assim: ‘se ninguém aceitar a proposta, como vamos ajudar quem precisa? Alguém tinha que aceitar’”.

Mesmo seguindo todos os protocolos e devidamente paramentado, o técnico acabou contraindo o vírus. “Foi bem difícil, pois tive muitas dores de cabeça e no corpo, além de sintomas gripais. Graças a Deus, não tive problema de oxigenação”, relembra. Atualmente, ele faz tratamento para dor na cervical, sequela da Covid-19. “Apesar de todos os sofrimentos e as dificuldades, valeu a pena. Agradeço a todos os profissionais de saúde que lutaram e continuam lutando contra essa pandemia. Vamos vencê-la.”

Aprendizado na profissão e na vida

Assim como tantos colegas de profissão em todo o mundo, a enfermeira Nádia Bueno, 30 anos, não imaginava que atuaria diretamente para conter uma pandemia. Com sete anos de experiência, sendo mais de um ano dedicado à unidade de pronto atendimento (UPA) do Núcleo Bandeirante, ela foi realocada diversas vezes para áreas da linha de frente contra a Covid-19.

“Antes do coronavírus, eu atuava no Núcleo de Qualidade, com o pessoal de Ensino e Pesquisa”, lembra. “O atendimento era feito em uma tenda para pacientes com dengue. Quando a pandemia começou, o espaço passou a atender apenas aqueles com doenças respiratórias, e a UPA a oferecer UTI [unidade de terapia intensiva] para os necessitados.”

Nos mais de 10 meses de epidemia global, Nádia passou pelas áreas de assistência ao paciente, gestão de leitos, segurança ao paciente e vigilância epidemiológica. “Eu não tinha experiência em nenhum desses setores, mas fui aceitando as oportunidades”, conta. “Apesar dos problemas, tudo foi muito bom porque cresci profissionalmente e aprendi muito como ser humano.”

Durante a batalha, a enfermeira teve que se ausentar após ser contaminada pelo coronavírus em novembro do ano passado. Os sintomas foram leves, mas a preocupação era não transmitir para ninguém. “Eu não fiquei com medo por mim, mas pelas pessoas que estavam comigo”, relata. A pausa no trabalho também era motivo de aflição. “Fiquei preocupada com meus pacientes, queria poder ajudar.”

Para Nádia, que recebeu a primeira dose na semana passada, a chegada da vacina marca o início de novos tempos. “O que a gente passou aqui não foi fácil, mas ver isso agora é como uma luz no fim do túnel”, afirma, emocionada.

“Não podemos afrouxar, pois ralamos muito nos últimos tempos para conter o número de infectados no DF. Todas as medidas sanitárias devem continuar até que toda a população seja vacinada”Belchio Júnior, médico

Meses de isolamento rigoroso

Chefe da UTI Covid do Hospital de Base, Belchior Oliveira Júnior, 38 anos, assumiu o cargo em junho de 2020. A decisão o obrigou a se afastar da família e dos amigos. “O mais difícil foi o começo, porque tudo era muito incerto, e a gente estava aprendendo a lidar com a doença e a combatê-la. Não tinha resposta certa ou errada. Fomos descobrindo tudo aos poucos, com bastante resiliência e dedicação”, relembra.

Com a chegada do imunizante, o médico vê cada vez mais próxima a possibilidade de resgatar os mais de seis meses de afastamento das pessoas amadas. “Valeu a pena me isolar, porque pude protegê-las. Durante todo esse tempo, não teve uma vez que eu consegui me esquecer da pandemia ou relaxar. Eu sempre me lembro das pessoas internadas que precisam de ajuda e me solidarizo com elas”, ressalta o médico, vacinado na última quarta-feira (20).

“Ver um paciente infectado receber alta é sempre um momento de alegria”Aguinaldo de Oliveira, técnico de enfermagem

O momento ainda é de prevenção. “Não podemos afrouxar, pois ralamos muito nos últimos tempos para conter o número de infectados no DF. Todas as medidas sanitárias devem continuar até que toda a população seja vacinada”, alerta Belchior. “No futuro, acredito que vamos conseguir voltar a ter uma vida normal, como era antes da pandemia.”

De 19 de janeiro, primeiro dia de vacinação no Iges-DF, até essa sexta-feira (29), foram vacinados 6.041 colaboradores do instituto.

*Com informações do Iges-DF