08/03/2021 às 09:50, atualizado em 08/03/2021 às 10:47

Carreiras dedicadas a salvar vidas no Hospital de Base

Conheça os três médicos que há décadas ajudam a construir a história da mais importante unidade de saúde do DF e que faz 10 mil atendimento por dia

Por Agência Brasília* | Edição: Chico Neto

O Hospital de Base (HB) é a maior, a mais antiga unidade de saúde pública do Distrito Federal e uma das mais importantes do Brasil. Fundado em 1960, o HB ocupa 54 mil metros quadrados de área construída, formada por 12 andares, onde estão distribuídos 634 leitos e cerca de 30 tipos de serviços médico-hospitalares, inclusive transplantes de alta complexidade.

Mais de 10 mil pessoas são atendidas diariamente ali. Para recebê-las, o hospital conta com 4 mil colaboradores. À frente desse exército de profissionais, há um batalhão de médicos renomados e conceituados internacionalmente. Entre eles, destacam-se doutores cuja trajetória profissional se confunde com a própria história do Hospital de Base.

É o caso dos médicos José Carlos Quinaglia e Silva, 68 anos; Osório Luís Rangel de Almeida, 74, e Julival Ribeiro, 67. São profissionais que, há mais de três décadas, se dedicam a salvar vidas no HB, uma das oito unidades administradas pelo Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Iges-DF).

Acompanhe, abaixo, a história desses heróis da saúde.

JOSÉ CARLOS QUINAGLIA

Foto: Davidyson Damasceno/Iges-DF

O capixaba Osório Luís Rangel de Almeida chegou a Brasília em 1962, dois anos após a inauguração da capital. Formando em medicina pela quarta turma da Universidade de Brasília (UnB), o cardiologista ingressou no Hospital de Base em 1986, ao ser convidado para integrar a Unidade Coronariana, área de cuidados intensivos para pacientes com problemas cardíacos que necessitam de monitoramento 24 horas.

Em 35 anos de dedicação, Osório acumula inúmeras conquistas e recordações. Em 1983, foi responsável pela implantação da telemedicina no hospital. Era um dos médicos que, por telefone, prestavam consultoria a diversos colegas que trabalhavam em outras regiões administrativas do DF. “A orientação era por meio dos sons de eletroencefalograma e de eletrocardiograma dos pacientes em atendimento”, recorda.

“Muito mais que pela estrutura física, o HB se define principalmente pela qualificação do seu pessoal” Osório Luís Rangel de Almeida, cardiologistaesquerda

Osório lembra-se de um paciente especial: o presidente Tancredo Neves. Em 15 de janeiro de 1985, Tancredo foi eleito presidente do Brasil por meio de voto indireto do Congresso Nacional. Em 14 de março daquele ano, um dia antes de tomar posse, foi internado às pressas no HB, após ter sido diagnosticado com apendicite aguda. Osório fez parte da equipe médica que atendeu o chefe do Executivo. Tancredo depois seria transferido para o Instituto do Coração, em São Paulo, onde faleceu em 21 de abril, aos 75 anos.

Acompanhamento direto

Mas o que mais orgulha o cardiologista é salvar vidas. Osório perdeu as contas de quantas vezes dormiu ao lado de pacientes, na UTI, para acompanhar a evolução clínica dos doentes. Quando conseguia liberá-los, comemorava. “Nossa maior satisfação é ver a alta de um internado”, afirma. “O paciente sempre tem razão e merece o melhor atendimento”.

O médico se orgulha também de continuar fazendo parte da equipe de profissionais no HB, referência no atendimento de traumas e de procedimentos de alta complexidade. Esse reconhecimento, avalia ele, foi conquistado por causa da dedicação dos médicos aos pacientes.

“O HB sempre foi um hospital de vanguarda, com as mais altas competências e com profissionais de ponta, vindo de todos os lugares do país e do mundo”, ressalta. “Muito mais que pela estrutura física, o HB se define principalmente pela qualificação do seu pessoal.”

Defensor do ensino e da pesquisa como um dos tripés essenciais para o desenvolvimento da ciência, atualmente o cardiologista dedica parte de sua carga horária a ensinar aspirantes a médicos. “Esse também é um dos nossos compromissos éticos: transmitir o conhecimento adquirido”, diz.

JULIVAL RIBEIRO

Outro jaleco conhecido nos corredores do HB é o do infectologista Julival Ribeiro, 67 anos. A caminhada do baiano em Brasília começou em 1980, por escolha do destino, como define. “Após me formar em medicina em Salvador, fiz concurso de residência em vários locais, um deles o Distrito Federal”, conta. E aqui ficou.

O amor pela capital se deu à primeira vista, e foi aqui que ele concretizou o sonho de atuar na profissão escolhida. “Amo esta cidade, onde tive a oportunidade de crescer”, declara Julival. “Deus também me iluminou de ter vindo para o Base, lugar de referência na saúde”.

“O nosso objetivo é melhorar, sempre, qualquer educação contínua, visando sobretudo à alta performance do serviço” Julival Ribeiro, infectologistadireita

Há 30 anos ele trabalha no hospital, atualmente à frente da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar. Em 2011, foi diretor-geral do HB. No cargo, desenvolveu em equipe um trabalho com foco no cuidado ao paciente. “Criamos a Unidade Neurocardiovascular, reestruturamos totalmente o Trauma e atuamos na Comissão de Ensino e Pesquisa”, relembra.

Compromisso com o paciente

Defensor do Sistema Único de Saúde (SUS), acredita que a assistência ao cidadão sempre deve ser o ponto de partida na medicina.  “Atender é a nossa razão de ser médico”, afirma. Atrelado ao compromisso com o paciente, Julival enumera o ensino e a pesquisa: “O Base forma há muitos anos médicos residentes. O nosso objetivo é melhorar, sempre, qualquer educação contínua, visando sobretudo à alta performance do serviço”.

Foram muitos os casos marcantes durante a trajetória do médico, mas uma história ele considera como a mais marcante e especial. Em 2008, durante uma ronda na UTI Pediátrica, ele conheceu um menino que havia sido atropelado por um caminhão. “O transporte passou por cima do abdômen dele, e foram necessárias várias cirurgias para restabelecer a criança”, lembra.

No dia em que conheceu o paciente, ele encontrou o pequeno intubado, mas algo lhe chamou a atenção. “Ao me aproximar, eu senti que ele me pedia ajuda. Então, a partir daquele momento, passei a dedicar todos os dias a resolver o problema daquela criança, junto à equipe da cirurgia pediátrica”, conta.

Depois de dois meses, o paciente recebeu alta. Mas a história do menino continuou na vida de Julival, em forma de arte. Isso porque, tempos depois, um quadro pintado pelo garoto chegou às mãos do médico. “Um belo dia, houve uma exposição na área administrativa do HB, organizada pelo pessoal da pediatria”, relata. “Nesse dia, eu virei para a professora de arte e pedi um quadro que tivesse felicidade e alegria. Ela me entregou justamente a obra pintada pela criança que eu tinha atendido. Eu comprei e tenho até hoje na minha casa. É uma imagem de vida, de esperança. Nem por um milhão de dólares eu vendo esse quadro”.

*Com informações do Iges-DF