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20/07/2021 às 17:46, atualizado em 20/07/2021 às 18:41
Galeria dos Estados ganha desenhos de criadores que moram em várias Regiões Administrativas, numa mostra de talento e representatividade
A presença de 100 artistas visuais numa área de aproximadamente 1.500 metros quadrados da Galeria do Estados provoca de imediato uma sensação: Brasília ficou mais diversa e inclusiva. Com 92% de criadores vindos das Regiões Administrativas fora do centro político-administrativo do Plano Piloto, a arte espalhada pelos vãos do viaduto provoca um mosaico de sensações.
Os estilos também se misturam nas paredes, provocando um passeio à parte. É possível observar o estêncil, grafite feito no molde, convivendo com o 3D, aquele desenho que parece sair do muro. Há ainda as telas mais figurativas e realistas, as de influências surreais que parecem dialogar com o universo das tatuagens e o grafite mais tribalista e codificado por estilos conhecidos como Wild (setas e letras, às vezes indecifráveis), thrown up (vômito em inglês, feito rapidamente e que remete a letras) e bombing (um thrown up com letras bem mais arredondadas). Há ainda o diálogo com artistas visuais modernos, como Rubem Valentim e os grafites tags, que representam a assinatura dos artistas e revelam seus estilos.
Dez estilos
Há 100 telas na Galeria dos Estados, cada uma mais intrigante que a outra. Num passeio pelos trabalhos, os dez criadores falam dos seus estilos.
Argo
Roberto de Oliveira, de Santa Maria, conhecido na cena urbana como Argo, resolveu grafitar letras que mesclam com todos os elementos do grafite.
“O encontro reúne letras, desenhos e personagens de diversos estilos. Cada grafiteiro tem um codinome que remete à sua assinatura, e dessa vez vou deixar a minha marca em um letrado que significa a tag do artista, uma espécie de impressão digital artística”, esclarece.
Ganjart
Natural do Gama, a artista Kainan Campos – Ganjart participa pela segunda vez do evento e considera hoje o grafite não só um trabalho, mas algo que move sua vida.
“Nesse painel quis homenagear o conceito de mãe natureza. Meu trabalho busca retratar a força da biodiversidade como nossa mãe, que tudo nos provê, e os ataques que os recursos naturais têm sofrido”, contemplou a jovem.
Guga Baygon
De Recife, Guga Baygon traz toda a experiência com a arte de tatuar para o grafite e brinca com elementos do universo onírico e surreal.
“Gosto dessa mistura do sonho com cores muito fortes. O resultado é essa viagem intensa aos olhos”, frisa.
Mathê
Moradora do Sudoeste, Mathê Avelar é professora de Artes Visuais na UnB e considera o grafite uma das principais fontes de expressão do seu trabalho. Em sua obra, Mathê trouxe uma mulher negra e empoderada, com um cabelo que revela sua beleza e identidade. Essa é sua primeira participação no Encontro do Graffiti, que foi motivada também por dançar hip-hop.
“Para grafitar esse painel, me inspirei também em Rubem Valentim, que tem uma tendência muito marcante de remeter com potência toda a simbologia do povo afro brasileiro”, explicou.
Nabrisa
Residente em Samambaia, Sabrina Falcão, conhecida na cena como Nabrisa, revela a sensação de poder grafitar em um mural feito completamente por mulheres. Com um desenho de uma mulher segurando uma lâmpada, que significa “a mulher sendo a luz na vida de outras mulheres”, a artista quis transmitir o alerta para as causas enfrentadas pela população feminina diariamente.
“Esse foi um projeto histórico destinado exclusivamente pro grafite que contemplou artistas com material, cachê e visibilidade. A localização escolhida também representou muito para a cena”, celebrou.
Iasmin Kali
De Planaltina, a grafiteira Iasmim Kali destaca que sua participação na intervenção tem o intuito não só de revitalizar o local, mas, também, de dar visibilidade ao grafite feminino e das artistas mulheres como um todo. Ela buscou representar as mães e filhas que passam todos os dias pela Galeria.
“Estes painéis representam o nosso sagrado feminino, a maternidade, para que mulheres possam se enxergar e se sentirem representadas pela nossa arte”, conta.
Oliver Onk
O artista urbano de Sobradinho Alain Silva, conhecido como Oliver Onk, trabalha no grafite há 19 anos e grafitou o foguete do Parque da Cidade e a Torre de TV.
“Estou muito admirado com a união e com o empenho que todos os grafiteiros estão tendo com esse projeto e com o estímulo para colorir a cidade e movimentar o segmento artístico”, arrematou.
Priscila Peçanha
Moradora de Samambaia, Priscila Peçanha revela que sempre buscou participar de eventos como o Encontro do Graffiti. Grávida de sete meses de uma menina que se chamará Dora, a artista atua no grafite há sete anos e seu desenho retrata o poder místico do sagrado feminino e seu encontro com a natureza.
“Combinamos uma conexão para que este painel coletivo transmita todos os nossos anseios e lutas”, acrescenta a artista.
*Com informações da Secretaria de Cultura e Economia Criativa