29/07/2021 às 10:52, atualizado em 29/07/2021 às 14:39

Aumenta o número de brigadistas mulheres na prevenção e combate ao fogo

Elas integram o contingente treinado pelo Instituto Brasília Ambiental para enfrentar o período crítico da seca

Por Agência Brasília* | Edição: Carolina Jardon

Nos três cargos previstos, brigadistas, chefes e coordenadores de brigadas, os salários vão de R$ 2,2 mil a R$ 3,3 milesquerda

“Atenção! Formar!” Era a primeira vez que sete das oito mulheres que fazem parte do grupo de 150 brigadistas florestais contratados pelo Brasília Ambiental no âmbito do Plano de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais (Ppcif), coordenado pela Secretaria do Meio Ambiente (Sema), ouviam o comando. Reunidas na base fixa do Parque Ecológico de Águas Claras para um dia de instrução, elas se viraram de um lado, de outro, abriram os braços, aprenderam a distância correta entre si e a maneira de se posicionar. Viveram o encanto da primeira formação.

Para cada uma dessas mulheres, o motivo de fazer parte da brigada é diferente. Em comum, o amor à natureza e o desejo de contribuir com a preservação do meio ambiente. Com idades que variam entre 25 e 42 anos, elas também veem no posto uma chance de incrementar a renda ou mesmo de recuperá-la em virtude dos impactos negativos da pandemia de covid-19, quando algumas perderam o emprego ou tiveram que fechar pequenos negócios, como o salão de beleza que Rosângela Pereira mantinha na Ceilândia. Nos três cargos previstos, brigadistas, chefes e coordenadores de brigadas, os salários vão de R$ 2,2 mil a R$ 3,3 mil.

Se as sete mulheres estão com medo de enfrentar as chamas? Não. “É só não correr riscos. Usar os equipamentos de forma correta, seguir os comandos e portar equipamentos de proteção individual, responde Elisângela Carlos

Veterana entre as demais colegas de profissão, aos 42 anos e com três filhos, ela desponta como alguém que pode ensinar muito, baseada no que aprendeu como brigadista voluntária em outras ocasiões e exercendo diversas funções na construção civil, como as de rejuntadeira e eletricista. Hoje ela atua em uma escola como auxiliar de serviços gerais.

Vencendo preconceitos

Minoria a ocupar uma função tida como masculina, elas não se intimidam. “As pessoas pensam que é só força e físico, mas é também trabalho mental; e estamos prontas, inclusive, para incentivar outras mulheres a ocupar esses e todos os espaços”, diz Fernanda Keller.

Em casa, Isabella Ferreira dos Santos teve a inspiração do companheiro, também brigadista. No início, ele se assustou porque ela escolheu se candidatar para chefe da brigada. Mas, contando com uma rede de apoio composta por sua tia e sua mãe, Isabella encarou o desafio.  Agora, a gestora ambiental formada pela Universidade de Brasília (UnB) está feliz e confiante.

“Já tive oportunidade de cursar disciplinas sobre a ecologia do fogo, por exemplo, e o tema sempre me interessou”, conta.

Liderança

Por ter conhecimentos de diversas áreas, Isabella ocupa o posto de chefe de brigada. Junto às amigas Fernanda Keller, Michelle Duarte e Heloísa de Souza Freire, também formadas ou graduandas em Gestão Ambiental, ela vai atuar como brigadista pela primeira vez. As quatro garantem que não deixam a desejar a nenhum homem e que se sentem até mais preparadas como mulheres.

O curso de formação foi feito em Corumbá de Goiás. Elas já estavam de olho na oportunidade e a agarraram, quando souberam do treinamento um dia antes do encerramento das inscrições. Na turma, a maioria era de mulheres. “Na avaliação final, eram três quilômetros de corrida, três de caminhada com bomba costal de 20 litros e dezenas de abdominais e exercícios de barra; foi um momento de superação pessoal mesmo”, conta Fernanda.

“A gente se conhece há muito tempo, estudou junta. Temos amigos brigadistas que nos incentivaram e estávamos esperando o curso de formação” diz. Ela, Heloísa, Michelle e Isabelle não tiveram despesa com inscrição, deslocamento e hospedagem. O curso foi ministrado com recursos de compensação ambiental e foi aceito no DF por ser de responsabilidade de um órgão público.

Instrução

O diretor do Dpcif do Brasília Ambiental, Pedro Cardoso, foi um dos instrutores da turma. Ele explicou que a criação de uma área específica para atuar na prevenção e combate aos incêndios florestais foi um marco nas políticas públicas da área no DF. “Ainda temos muito a melhorar, mas estamos com uma estrutura muito melhor, inclusive em termos de equipamentos, sua padronização e qualidade”, diz.

O analista ambiental Airton Mauro de Lara, que trabalha no departamento, disse que no senso comum é normal encarar o cerrado como propício e resiliente ao fogo. “Mas não podemos pensar assim. O fogo não é normal. Há estudos apontando que corremos o risco de extinção de muitas espécies devido ao fogo, e não podemos encarar este fato com normalidade”, alerta.

Coordenadora do Ppcif na Sema e responsável por detalhar o plano às brigadistas, Carolina Schubart comemorou o aumento no número de mulheres na brigada. “No ano passado foram quatro. Esse ano, estamos com oito, e mais seis podem entrar na segunda chamada. Termos mais mulheres é um avanço e ser uma mulher e estar à frente desta missão também. Mas não é fácil. O que nos motiva é o amor ao que fazemos e estar de braços abertos para o que acreditamos”, diz.

Emergência Ambiental

O Distrito Federal entrou em estado de emergência ambiental em março por determinação do Decreto nº 41.783, assinado pelo governador Ibaneis Rocha. A medida é válida até novembro e possibilita, entre outras ações, a contratação de brigadistas florestais a tempo de atuar na prevenção e não apenas no combate aos focos de incêndios. No ano passado, Brasília conseguiu diminuir a área queimada nas unidades de conservação em 50%.

* Com informações da Secretaria do Meio Ambiente