24/12/2021 às 10:28, atualizado em 24/12/2021 às 15:01

‘A recuperação de canais de irrigação por todo o DF só se expande’

Produtores já têm 33 km de tubulação reformados; ano que vem, o canal do Rodeador, o maior de todos, terá um investimento de R$ 15 milhões

Por Rafael Secunho, da Agência Brasília | Edição: Saulo Moreno

O Distrito Federal vai ganhar em 2022 dois polos agroindustriais para potencializar os ganhos dos produtores rurais: um no Programa Assentamento Dirigido do Distrito Federal (PAD-DF) e outro em Planaltina. Serão áreas destinadas a insumos agrícolas, manutenção de maquinário, criação de abatedouros e outros. Ou seja, não basta somente produzir, mas é preciso complementar esse negócio com outras atividades. Serão áreas de cerca de 300 hectares, divididas em lotes onde as indústrias poderão se instalar.

Maquinários também estão sendo entregues pela Secretaria de Agricultura para estimular a produção agrícola. “São tratores, carretas, colheitadeiras para estimular o plantio e garantir que os agricultores continuem suas atividades”, explica o secretário-executivo de Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural, Luciano Mendes.

Além disso, a recuperação de canais de irrigação por todo o DF só se expande: já são 33 km de tubulação reformados garantindo água a quem produz. E, ano que vem, sairá a reforma do maior de todos: o canal do Rodeador, em Brazlândia, que custará R$ 15 milhões em um primeiro momento.

Essas e outras melhorias para quem trabalha no campo são contadas por Luciano Mendes em entrevista à Agência Brasília.

Confira abaixo a íntegra da entrevista:

“Vamos lançar nos próximos meses, em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, o edital de chamamento para o polo do Rio Preto, com o objetivo de convocar as empresas interessadas em se instalarem na região para apresentarem propostas de negócios”direita

O governo tem investido na recuperação de canais de irrigação por todo o Distrito Federal. Qual a necessidade e quanto já foi reformado até o momento?

Temos mais de 70 canais no DF que somados dão mais de 240 quilômetros de extensão. São canais que foram feitos há bastante tempo e diretamente na terra, sem qualquer proteção. Constatamos que mais de 50 % da água que entra no canal não chega até os produtores. Então, o objetivo é tentar reduzir isso com a tubulação desses canais. Já temos em torno de 90 km de extensão reformados.

Ao longo desses últimos três anos, recuperamos essas redes de irrigação em várias regiões. Só para citar alguns dos mais importantes, temos o canal Santos Dumont, em Planaltina, que beneficia quase 150 produtores rurais locais. E o da Vargem Bonita, próximo ao Park Way, que é uma demanda histórica dos agricultores de lá.

Em 2022 teremos mais novidades? Como está a obra do Canal do Rodeador?

O Rodeador, na região de Brazlândia, é o principal e maior canal do Distrito Federal, aquele que tem maior vazão. Possui mais de 30 quilômetros e está naquela região de afluência da Bacia do Descoberto. Sua recuperação será feita em uma parceria com a Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco), do Governo Federal.

É uma obra grandiosa. Em uma primeira fase, serão investidos R$ 7,1 milhões que estão prestes a ser licitados. Depois, serão mais cerca de R$ 8,2 milhões nessa construção. No primeiro semestre de 2022, ela já estará bem adiantada.

Vamos beneficiar mais de 100 famílias de produtores rurais com uma estrutura que permitirá captação de 150 litros por segundo, suficiente para abastecer uma cidade de 100 mil habitantes.

O DF já se prepara para receber os polos agroindustriais? Quantos serão e como eles vão ajudar no agronegócio?

Serão dois polos – um no PAD-DF, próximo à comunidade Café Sem Troco, na região do Paranoá. E o outro, já autorizada a criação pelo governador Ibaneis Rocha, na comunidade do Rio Preto, em Planaltina.

“Vamos lançar nos próximos meses, em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, o edital de chamamento para o polo do Rio Preto, com o objetivo de convocar as empresas interessadas em se instalarem na região para apresentarem propostas de negócios”.

Para que o DF possa se tornar mais forte ainda no setor produtivo, precisávamos ter aqui outros investimentos, outras atividades agrícolas para complementar aquilo que a gente já tem.

Por exemplo, em Brasília se produz a soja, mas não se esmaga a soja. Então, por que não poderíamos atrair uma empresa com essa qualificação? Podemos verticalizar essa produção preparando o grão e ainda termos, por exemplo, o farelo da soja para ser usado na alimentação animal.

Somando o PAD-DF e Planaltina, são mais de 50 lotes sendo colocados à disposição dos empresários aqui do DF e Entorno. A ideia é que o polo agroindustrial potencialize a produção agrícola, vindo a somar uma coisa com a outra.

Quais as linhas de crédito que o produtor rural tem como opção aqui na capital?

Temos de tudo: linhas de crédito para o pequeno agricultor, para o agricultor familiar, para o médio ou grande produtor. Existem diversas linhas de financiamento tanto em nível do governo local como federal. Temos na Secretaria de Agricultura um crédito próprio, que é o Fundo de Desenvolvimento Rural (FDR), no qual o governo já investiu mais de R$ 30 milhões até aqui.

“Temos democratizado o acesso aos equipamentos agrícolas. São mais de R$ 8 milhões investidos nessa área. A Secretaria de Agricultura adquire esse maquinário e coloca à disposição dos agricultores. Não é algo personificado. Na verdade, a gente disponibiliza para entidades organizadas de agricultores. É feita uma chamada pública para selecionar as associações e cooperativas para que se faça o repasse desses equipamentos”direita

Os produtores têm utilizado a verba para compra de maquinário e custeio das suas lavouras. Muitos já estão aplicando também na produção de energia fotovoltaica. Além do FDR, a gente conta no DF com o Prospera, da Secretaria do Trabalho, e linhas de crédito do Banco de Brasília (BRB).

A Emater, com toda a sua excelência, está muito próxima dos agricultores, oferece assistência em seus projetos e orienta onde eles podem investir o seu recurso e potencializar a produção.

E o maquinário agrícola entregue aos produtores? Como funciona esse projeto?

Temos democratizado o acesso aos equipamentos agrícolas. São mais de R$ 8 milhões investidos nessa área. A Secretaria de Agricultura adquire esse maquinário e coloca à disposição dos agricultores. Não é algo personificado. Na verdade, a gente disponibiliza para entidades organizadas de agricultores. É feita uma chamada pública para selecionar as associações e cooperativas para que se faça o repasse desses equipamentos.

Normalmente, são os tratores de médio porte que vêm acompanhados com grade, aradora. As carretas agrícolas que possuem o distribuidor de calcário.

Servem tanto para a colheita, como para a preparação do solo. Também temos colocado à disposição caminhões para o transporte dos alimentos até as feiras e o Ceasa. Trata-se de uma forma de fomentar a produção e garantir que os produtores rurais continuem nas suas atividades.

Em relação à produção agrícola, quais espécies têm apresentado bons resultados por aqui?

Apesar do DF ser um território pequeno, temos aqui mais de 100 espécies diferentes. Boa parte da população não conhece a riqueza que é produzida aqui no nosso curto espaço. Há bastante tempo se produz soja, milho, e diversos tipos de frutas como banana, maracujá, cítricas – limão e tangerina – e inúmeras espécies de hortaliças.

Mas temos outras espécies, principalmente de frutas, que a gente já percebeu que elas são viáveis por aqui. Basta a gente inovar e, para isso, temos todo o trabalho da Emater e a parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Uma delas é a uva, que as pessoas já estão produzindo. Seja para mesa ou agora para o vinho. Brasília se prepara neste momento para ter a primeira vinícola, que está sendo construída às margens da BR-251 na região do Paranoá.

Temos a cultura do mirtilo que está sendo incentivada, além do cultivo da maçã e da pera. E, na área de grãos, cito a canola, uma das espécies que chegou aqui no cerrado, e tem ótima produtividade se comparada a outros estados, e vai permanecer com certeza. Uma alternativa à soja para a produção do óleo, que está sendo feita no Rio Preto com cerca de 20 agricultores.

Estamos construindo um programa junto com o Governo Federal e outros parceiros que visa fomentar, colocar crédito, assistência técnica para a comercialização e compra dessas fruteiras, principalmente dos agricultores familiares. Oferecer novas opções a eles.

Qual a importância das compras públicas, como o Plano de Aquisição de Alimentos (PAA) e outros? Os números são positivos?

Neste ano já foram adquiridos mais de R$ 25 milhões em produtos de nossos agricultores rurais aqui do DF para fornecer à alimentação escolar por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae).

No caso do PAA, o GDF compra dos produtores e fornece para a rede socioassistencial , beneficiando entidades e famílias carentes cadastradas no Banco de Alimentos da Ceasa. Estamos falando de mais 60 mil pessoas que ao longo deste ano receberam alimentos provenientes do programa, distribuídos ora pela Ceasa, ora pelo Sesc, por meio do programa Mesa Brasil.

Além de um projeto nosso, que inclusive está sendo copiado por outros estados, que se chama _Programa de Aquisição de Produtos da Agricultura (Papa-DF).* Ele possibilita que outras instituições do governo local ou federal adquiram produtos dos agricultores do DF e da Ride (Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno) por um custo bem mais baixo. É uma vantagem para a instituição que está adquirindo a um bom preço e um benefício também para o pessoal do campo, que muitas vezes está em dificuldade.