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08/03/2022 às 17:59
Mulheres ocupam 70% dos postos de trabalho no Complexo de Reciclagem do DF e também lideram associações e cooperativas
O Complexo Integrado de Reciclagem do Distrito Federal (CIR-DF), inaugurado em dezembro de 2020, representa uma mudança na qualidade de vida das catadoras e catadores de materiais recicláveis e dá ao DF posição de vanguarda na América Latina quando se fala da gestão de resíduos.
“Elas merecem destaque especial pelos resultados alcançados à frente dos empreendimentos e das conquistas”, diz o secretário de Meio Ambiente, Sarney Filhodireita
O empreendimento ocupa uma área de 80 mil m², incluindo duas centrais de Triagem e Reciclagem (CTRs) e uma Central de Comercialização (CC), com investimentos de R$ 21 milhões. A iniciativa tem capacidade de gerar mais de 750 postos de trabalho.
A grandiosidade dos números não é a única característica que torna o CIR muito significativo, especialmente neste 8 de março, dia de luta pela igualdade de gênero. Do total de vagas, 450 estão ocupadas, sendo que 320 – ou 70% do total -, por mulheres. Organizadas em cooperativas e associações, elas atuam na gestão compartilhada do espaço, junto à Secretaria do Meio Ambiente (Sema) e ao Serviço de Limpeza Urbana (SLU).
Poder público
Na própria Sema, uma nova servidora tem muito a contar sobre a história do lixão. Rita Pereira Borges de Jesus, 28, foi nomeada para o cargo de gerente de Resíduos Sólidos menos de duas semanas atrás. Ela acredita que há muitos desafios a serem superados na nova tarefa e espera estar à sua altura, já que começa com a missão de tocar processos licitatórios que garantirão melhorias ao complexo.
Apesar da nova experiência, Rita tem uma vida inteira de relação com o que antes era chamado simplesmente de lixo e, por força de muita gente, inclusive ela, ganhou a importância que merece a partir da instituição da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), a Lei nº 12.305/10.
“Toda a família se envolve. Junta, separa, vigia o trabalho já realizado, guarda coisas em casa”, conta Rita Pereira, gerente de Resíduos Sólidosdireita
Filha dos piauienses Francisco Edilberto Laurindo de Jesus e Edite Pereira do Monte de Jesus, casados há 30 anos, ela nasceu no DF e se lembra de ter percorrido, junto aos pais e à irmã, quatro anos mais nova, praticamente todas as regiões administrativas, na tentativa de conseguir um lugar para morar e uma fonte de sobrevivência.
“Éramos nômades, íamos de invasão em invasão, de barraco em barraco. Muitas vezes, o aluguel era fechado e, quando o locatário via que havia crianças pequenas, desmanchava o combinado na hora”, relembra. Por volta dos anos 2000, um lugar, finalmente, deu régua e compasso à família inteira, a Vila Estrutural.
Naquela época, o lugar era violento, regido por uma espécie de lei da sobrevivência, onde chegavam poucas políticas públicas e tudo era arranjado – desde a água, que chegava em caminhões-pipa, até a energia, puxada por gambiarras chamadas de “gatos”.
Da infância em que ia em comboio para a escola, junto a outros moradores e brincava perto do posto policial, para aumentar a sensação de segurança, ela viu acontecer as mudanças na região e em sua própria vida e maneira de pensar. “Na infância, não percebi muita coisa. Mas, a partir da adolescência, comecei a entender o olhar diferente, a distância, o nojo, o tratamento que a gente recebia, sendo pessoas negras, catadores de material reciclável”, relembra.
CIR
O Governo do Distrito Federal (GDF) vai executar este ano três projetos para a compra de equipamentos para o CIR. De acordo com o coordenador de Implementação da Política de Resíduos Sólidos da Sema, Glauco Amorim da Cruz, os novos equipamentos vão garantir, além de melhores condições de trabalho, maior agregação de valor aos materiais recicláveis, proporcionando valorização técnica e econômica aos materiais, e, principalmente, o aumento da renda dos cerca de 500 trabalhadores que já atuam no local.
Para Sarney Filho, o CIR representa o começo de uma nova era, em que o GDF consolida uma nova maneira de tratar os resíduos sólidos, cuidando ao mesmo tempo do meio ambiente e do social. “Os novos investimentos vão agregar mais valor e proporcionar elevação da renda dos catadores”.
As centrais de triagem, de 2,8 mil m² cada uma, recebem os resíduos da coleta seletiva. Nelas, o material é separado, classificado, pesado, prensado e transportado para a central de comercialização, onde ocorrem o beneficiamento, estocagem e comercialização.
Já a Central de Comercialização de Materiais Recicláveis recebe o material pré-selecionado para beneficiamento dos materiais advindos tanto das centrais de triagem quanto das demais cooperativas de catadores do DF pertencentes à rede Centcoop-DF.
*Com informações da Secretaria do Meio Ambiente do DF