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18/03/2022 às 16:05, atualizado em 21/03/2022 às 12:19
Mostra de jovem artista propõe percepção profana da arte; já ‘Xingu 57: viagem ao Brasil’ reúne fotos inéditas de expedição ao Alto Xingu, em 1957. Ambas começam nesta sexta (18) e vão até a próxima terça (22)
No mezanino, uma exposição de pinturas, desenhos, esculturas e objetos que se misturam, contaminam-se e propõem uma percepção profana da arte. Na galeria principal, uma mostra de fotos inéditas de expedição ao Alto Xingu, em 1957, de interesse histórico e etnográfico. Essas são as atrações que o Museu Nacional da República (MUN) exibe a partir desta sexta-feira (18) e seguem até 22 de maio.
A coleção é composta por mais de 100 imagens em preto e branco e algumas em cores, fruto de negativos descobertos pelo neto de Domiciano, Oto Reifschneider. Bacharel em história, mestre em sociologia e doutor em ciência da informação pela UnB, ele percebeu o achado como documentos de valor histórico e etnográfico. É também dono de uma galeria de arte e faz curadorias há mais de dez anos.
Os negativos foram primeiramente digitalizados, e depois os arquivos digitais foram restaurados. Oto explica parte do processo: “Existem vários caminhos para se fazer isso, cada qual com suas vantagens e desvantagens. Optamos por fotografar os negativos e trabalhar as imagens obtidas. Para isso, utilizamos lentes excelentes, que chegavam ao detalhe do grão do filme”.
O trabalho de restauração dos negativos – pesquisa, digitalização e divulgação – contou com recursos do FAC, na linha Patrimônio histórico e artístico material e imaterial, no valor de R$ 119,2 mil.
As fotos registram os bastidores de um período em que os irmãos Orlando e Cláudio Villas-Bôas (1916-1998) angariavam apoio para criação do Parque Indígena. Isso acabou ocorrendo em 1961, com delimitação de área de 26.420 km², uma das mais importantes do mundo. O projeto é de Darcy Ribeiro, quando o antropólogo era funcionário do Serviço de Proteção aos Índios, órgão precursor da Fundação Nacional do Índio (Funai).
Em relato de Domiciano, documentado pelo neto, o biólogo fala da empreitada: “Havia apenas o silêncio, os rastros dos animais nos barrancos de areia, os índios. Era ainda um território selvagem, você se perdia. Foram semanas de caça, de travessias por nuvens infernais de borrachudos, semanas na selva”.
Domiciano fez os registros fotográficos amadores alternando duas das câmeras mais modernas na época, as alemãs Exakta e Leica. “A Exakta foi bastante utilizada por pesquisadores e cientistas. Para quem não conhece o que foi a fotografia no século 20, eu diria que a Leica é o equivalente ao que é hoje a marca Apple. ”
Na exposição, as pessoas poderão ver imagens dos deslocamentos da equipe de sertanistas na selva e de indígenas das etnias Xavante, Mehinako, Kuikuro, Aweti, Txucarramãe, Juruna e Yawalapiti.
Serviço
Museu Nacional da República / Exposições
* Envenenada: profanações e polimorfismo tonais (mezanino)
* Xingu 57: viagem ao Brasil Central (galeria principal)
– Visitação: de terça a domingo, das 9h às 18h30. Até 22 de maio. Entrada gratuita. Classificação indicativa livre.