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03/04/2022 às 13:20, atualizado em 04/04/2022 às 14:48
Arte urbana contribui para conscientização dos alunos e valorização dos artistas da cidade
Cores e traços que encantam e dialogam. Mais do que isso, são formas lúdicas que, além de hipnotizar, têm a função também de educar. É o que revelam muitos dos muros das escolas públicas do DF, verdadeiras telas a céu aberto, fruto da imaginação fértil e lírica de grafiteiros e artistas visuais da cidade.
Várias escolas no DF adotaram muros ilustrativos que interagem de forma impactante com vários atores da sociedade. São artes que encantam alunos e pais, professores ou simplesmente quem passa pela rua. Trata-se de uma tradição que remonta os primórdios das civilizações gregas e romanas, ressurgindo com força total no século 20, graças ao talento de artistas como os espanhóis Picasso e Miró, sem esquecer o muralista mexicano Diego Rivera.
No Brasil, as pinturas não apenas de muros, mas de outros espaços públicos, também conhecidas como street art, ganharam peso internacional por meio de nomes de talento, como o artista Eduardo Kobra. Nascido em Taguatinga, o artista plástico Douglas Okada, o Minoru, já deixou sua marca em vários muros da cidade. É dele, por exemplo, a arte da fachada da Regional de Ensino do Guará. “Acho importante esse trabalho de ocupação, tentamos dar vida a esses espaços e sempre representar nas pinturas muita alegria e positividade”, destaca.
“Você chegar a uma escola ou em um ambiente de trabalho e ver um trabalho como esse, cheio de cores e que dialoga com o universo que você trabalha, com temas da sociedade, colabora com a atividade pedagógica” – Leandro Andrade, coordenador da Regional de Ensino do Guaráesquerda
Conscientizar
Para o coordenador da Regional de Ensino do Guará, Leandro Andrade, os trabalhos de arte nos muros de algumas escolas públicas do DF vão além da contemplação artística. São desenhos que passam mensagens, têm a missão de conscientizar alunos e, porque não, a sociedade, sobre temas com inclusão social, as minorias, a importância da natureza, dos esportes e, claro, da própria educação.
“São traços que saltam aos olhos”, empolga. “Você chegar a uma escola ou em um ambiente de trabalho e ver um trabalho como esse, cheio de cores e que dialoga com o universo que você trabalha, com temas da sociedade, colabora com a atividade pedagógica. Você já está passando um recado sem falar nada”, defende.
No Centro de Ensino Fundamental da 412 de Samambaia, o colorido vibrante dos grafites do Coletivo Motirõ surge como uma poderosa ferramenta de conscientização. É o que explica o diretor da escola, Castorino Alves Cornélio. “A nossa preocupação foi com a linguagem, fazer um tipo de arte que dialogasse com os alunos, manifestasse uma comunicação positiva”, conta. “Tem dado certo. Desde que a estética vibrante e colorida entrou na CEF 412, as ações de pichação e inscrições acabaram, ajudou na conservação dos muros das escolas”, revela.
Em outros espaços de ensino do DF, o estilo arrojado e alternativo conhecido da maioria das artes de grafite ganha contornos lúdicos tocantes. Às vezes, acompanhadas de referências educativas preciosas, marcantes até. É o que acontece, por exemplo, nos muros do Centro de Ensino Fundamental 2 da Estrutural, em que a diretora Juliana Gomes de Assumpção acredita incentivar o interesse pela arte, cultura e, claro, educação, homenageando dois clássicos da literatura por meio de trabalhos belíssimos.
“Essas intervenções que os artistas fazem mudam a cara da escola, deixando os espaços mais atrativos, o que é muito bom não apenas para os alunos, mas para toda a comunidade também” – Claudiney Formiga Cabral, coordenador da Regional de Ensino de Santa Mariaesquerda
Um deles, o marco do movimento regionalista, “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos. O outro, reproduções do lírico “O Menino que Descobriu Brasília”, de Regina Célio Melo. Cortesia do trio de artistas Astro, Best e Kbeça. “As crianças percebem a interação entre escrita e desenho”, esmiúça a diretora. “E aguçam sua busca por mais informações sobre esse tipo de arte”, acredita.
Na parte interna da escola, mais um festival de cores que interfere de forma positiva no dia a dia dos jovens. Assinadas, de novo, pelo artista Minoru, as pinturas exaltam a cultura e o esporte por meio de sapatilhas de bailarinas que voam, passos de tango que riscam o piso, movimentos de Bruce Lee e do pugilista brasileiro Popó. “São trabalhos muito bonitos mesmo, que encantam não apenas as crianças, mas nós, os pais”, aplaude Gizella Bastos, mãe de duas crianças matriculadas no CEF 2 da Estrutural.
Valorização da arte urbana
Aberta a todas as tendências, linguagens artísticas e movimentos, a Secec abraçou a arte urbana no DF, promovendo a cultura do grafite pela cidade. O primeiro passo nesse sentido foi promover a seleção de artistas do gênero para realizar a intervenção no viaduto da Galeria dos Estados.
Além de valorizar, de maneira criativa, a ocupação de espaços físicos, a iniciativa enaltece e potencializa talentos não apenas do grafite, como também do hip hop. Em 2021, foram cerca de R$ 336 mil investidos no segmento. As ações foram gestadas pela Subsecretaria de Economia Criativa (Suec).
“Levar a arte do grafite às ruas é trazer aos olhos a alma dessa cidade diversa”, reflete o secretário de Cultura, Bartolomeu Rodrigues. “Trabalhamos pelo fortalecimento dos valores da cultura hip hop, em que um dos principais propósitos é o resgate social”, pondera.
Fortalecendo esse conceito, em dezembro de 2021, a Secec selecionou 27 artistas urbanos para trabalhar no projeto “W3 – Arte Urbana”. Realizado entre os dias 27 e 28 de novembro e 4 e 5 de dezembro, a iniciativa coloriu de matizes variadas um dos setores mais populares da capital. O resultado foi uma gama eclética de estilos e gêneros que resultaram numa experiência sensorial mágica. “A Secec comprou a minha ideia, valorizou o meu trabalho, o que me deixou com muito orgulho de mim”, agradeceu na época o grafiteiro, Douglas Retok.