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03/04/2022 às 16:30, atualizado em 03/04/2022 às 17:54
Nas escolas, educadores agem para impedir os casos trabalhando o tema dentro de sala. No caso de situações com agravos psicológicos, há atendimentos em UBS, ambulatórios e CAPSi
“A gente tende a querer, nessas situações, dar respostas simples, mas esse é um fenômeno pautado nas relações sociais como um todo. É preciso envolver todo mundo: gestor, professor, quem promove (o bullying), quem sofre e os que assistem” – Leonardo Vieira Nunes, psicólogo escolardireita
O bullying é uma forma de violência sistemática a partir de ações físicas ou psicológicas, como intimidação, humilhação e discriminação. Por se tratar de um problema social, é mais recorrente em espaços coletivos, como o ambiente escolar.
“A escola é um espaço de convivência em que vão emergir situações de uma sociedade, como os diversos elementos sociais e culturais que são base para que o bullying aconteça”, afirma o psicólogo escolar e gerente de Serviço Especializado de Apoio à Aprendizagem da Secretaria de Educação, Leonardo Vieira Nunes. De acordo com ele, grande parte das violências se origina de preconceitos ligados a raça, religião, gênero e classe social.
No Distrito Federal, a rede pública de ensino tem ações para prevenir e superar o bullying. A Escola Classe (EC) 47 de Ceilândia, que atende mais de 600 alunos da educação infantil até o 5º ano, promove há mais de dez anos um programa específico para combater esse tipo de violência, batizado de Gentileza Gera Gentileza.
Desde o início do programa, a comunidade escolar notou a melhora da relação dos alunos e a maior inclusão das famílias. “Nosso objetivo é que os estudantes tenham a oportunidade de conhecer outros valores na escola, que não são os de casa ou da comunidade. O projeto nada mais é que um exercício diário de cidadania, ética e respeito ao próximo”, completa Luciene.
Mesmo assim, vez ou outra algum caso acontece. Quando ocorre, a escola faz a mediação do conflito com a presença dos familiares. “É um trabalho de formiguinha. Por isso, precisamos exercitar o projeto o tempo todo”, acrescenta a orientadora.
Capacitação e orientação
Todos os profissionais da Secretaria de Educação são qualificados no Eape – Subsecretaria de Formação Continuada com cursos focados na cultura de paz e convivência escolar, que os capacitam para lidar com situações de bullying.
Em 2020, a pasta lançou um compilado prático para orientar os professores com propostas pedagógicas de como atuar na escola com projetos, oficinas e ações que viabilizem a discussão do tema. Ainda neste ano, a secretaria vai divulgar um guia específico para abordar com mais propriedade o bullying.
“A gente tende a querer, nessas situações, dar respostas simples, mas esse é um fenômeno pautado nas relações sociais como um todo. É preciso envolver todo mundo: gestor, professor, quem promove [o bullying], quem sofre e os que assistem”, afirma o psicólogo escolar Leonardo Vieira Nunes.
“O bullying é multicausal. A pessoa que faz sofre com esse processo em casa ou em outras relações. Na escola, ela reproduz o comportamento que é reforçado pelo coletivo. O bullying nunca é sozinho. Por isso precisamos cuidar de todo mundo. É quase inevitável lidar sem envolver a família e a comunidade escolar”, completa.
Acompanhamento psicológico
A violência sistemática pode resultar em agravos psicológicos. Geralmente, quem é vítima tem dificuldade de falar sobre o fato. Primeiramente, por vergonha. Depois, por receio de uma retaliação. Fatores como esses impedem a busca de ajuda necessária. Por isso, é necessário que os familiares e a escola fiquem atentos às mudanças de comportamento.
“As pessoas ao redor vão perceber de maneira indireta, por diferenças comportamentais. Tristeza, isolamento, medo, irritabilidade, nervosismo e até sintomas físicos, como dor de barriga, dor de cabeça e mal-estar geral” – André de Mattos Sales, psiquiatra da infância e adolescência do Centro de Orientação Médico-Psicopedagógica (COMPP) da Secretaria de Saúdedireita
“As pessoas ao redor vão perceber de maneira indireta, por diferenças comportamentais. Tristeza, isolamento, medo, irritabilidade, nervosismo e até sintomas físicos, como dor de barriga, dor de cabeça e mal-estar geral”, explica o psiquiatra da infância e adolescência do Centro de Orientação Médico-Psicopedagógica (COMPP) da Secretaria de Saúde, André de Mattos Sales.
Casos de sofrimento psíquico gerados por bullying devem ser encaminhados aos serviços de saúde mental. A orientação é buscar a Unidade Básica de Saúde (UBS), que é a primeira instância da rede. “As equipes de saúde da família são compostas por vários profissionais que poderão fazer o acolhimento da situação e encaminhar para outros níveis de atenção, caso seja necessário”, explica Nunes.
Nos outros níveis de atenção, o atendimento pode ser feito nos ambulatórios de saúde mental – como o COMPP, que atende crianças de 0 a 12 anos, e o Adolescentro, voltado para jovens de 12 a 18 anos – ou nos Centros de Atenção Psicossocial Infantil (CAPSi) do Recanto das Emas, Sobradinho e Taguatinga, voltados para pacientes de 0 a 18 anos em situações de maior gravidade.
O psicólogo alerta que a atenção em relação ao bullying não deve ser apenas na vítima. É importante identificar e trabalhar as crianças com padrões de agressores. “Normalmente são crianças que passam por situação de violência, vivenciam várias vulnerabilidades e adotam isso como forma de lidar com questões pessoais. Não podemos só culpar, mas entender por que ele tem esse tipo de ação”, afirma.
Serviço
Onde procurar ajuda?
Atenção Primária
– Unidade Básica de Saúde
Atenção Secundária
– Centro de Orientação Médico Psicopedagógica, no Setor Médico Hospitalar Norte
– Adolescentro, na 605 Sul
– Centros de Atenção Psicossocial Infantil