14/10/2022 às 08:27, atualizado em 14/10/2022 às 09:15

Nunca é tarde para aprender: idosos estudam na rede pública do DF

Educação para Jovens e Adultos permite que pessoas em idade avançada retornem para a sala de aula e realizem antigos sonhos. Centro Educacional 2 de Taguatinga atende a cerca de 900 alunos na modalidade, incluindo alunos com mais de 80 anos

Por Catarina Loiola, da Agência Brasília | Edição: Carolina Lobo

“Resolvi voltar a estudar porque perdi uma oportunidade de mudar de cargo no trabalho. Agora, quando surgir outra oportunidade, vou estar pronto para assumir”. Essa foi a motivação do porteiro Josias Alves de Assis, 55 anos, para ingressar na Educação para Jovens e Adultos (EJA), após passar a vida inteira longe da sala de aula. Nascido na Bahia, ele interrompeu os estudos ainda nos primeiros anos escolares, devido à insuficiência de docentes no município em que morava. Com isso, pouco sabia ler e escrever.

Anos se passaram e, no primeiro semestre de 2019, Josias criou coragem e voltou para a sala de aula, incentivado pelas duas filhas e pela companheira. Depois de uma prova de nivelamento, foi inserido na turma referente ao quarto ano do ensino fundamental na EJA no Centro Educacional 2 (CED 2) de Taguatinga. A dedicação às atividades escolares, as tarefas para casa e a criação de laços com novos colegas foram interrompidas com a pandemia do novo coronavírus, em março de 2020. Josias se viu, mais uma vez, com dificuldades para estudar, sem conseguir manter o ritmo com as aulas online, e decidiu interromper a alfabetização.

A diretora do CED 2, Romênia Boaventura, diz: “Usamos uma metodologia diferente, porque trabalhamos com pessoas que têm uma história, uma bagagem de vida muito grande”

O CED 2 atende a cerca de 900 estudantes, em três turnos – matutino, vespertino e noturno –, divididos em 47 turmas. Há alunos desde a idade mínima, 15 anos, até idosos com mais de 80 anos. “Temos três alunas com 82 anos. Para elas, é um resgate da própria história. O fato de estar dentro da escola significa que está retomando alguma coisa incompleta na vida. Então, a interação com os outros estudantes é um grande ganho em termo de vida”, comenta a diretora.

Professor de matemática, Leopoldo José Alves compõe o corpo docente da unidade de ensino e se dedica a ampliar os horizontes de jovens, idosos e adultos. Com mais de 30 anos de carreira, ele utiliza técnicas de alfabetização comuns no jardim de infância para ensinar aos mais velhos. “Os idosos também precisam de um material concreto, assim como as crianças. Precisam de um tempo maior de adaptação. É preciso ter tolerância e força de vontade. A sociedade precisa perceber que se temos um adulto alfabetizado, letrado, temos um cidadão mais consciente”, alega.

A participação dos mais experientes impulsiona os mais novos. “Quando o pessoal de 20 anos vê uma aluna com mais de 80 anos se dedicando em aprender, estudando, pensa: ‘poxa, se ela consegue, eu também posso’. Todos têm sonhos, querem fazer um curso técnico, uma graduação, entrar no mercado de trabalho. E os exemplos são motivadores”, afirma.

O sentimento que fica no coração dos professores, segundo Leopoldo, é o de heroísmo, misturado com gratidão. “Cada indivíduo tem uma história por trás. Enquanto educadores, temos um papel na sociedade e cumprir isso nos deixa muito felizes”, conclui.

Nunca é tarde para aprender: idosos estudam na rede pública do DF