03/11/2022 às 19:17, atualizado em 03/11/2022 às 19:46

Creas intermedeia mensalmente cerca de 20 pedidos de retificação de gênero

Pessoas que vivenciam a transição encontram atendimento integral, durante todo o processo, no Creas Diversidade, que atua em parceria com o Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública do DF

Por Agência Brasília* | Edição: Rosualdo Rodrigues

“Não, sua mãe não entende e seu pai não entende. Tio John não entende e você não pode dizer para sua avó, porque o coração dela não aguentaria e ela pode não resistir”. Esse é o trecho da música The Village, do cantor norte-americano Wrabel. Ela conta a história de um adolescente transgênero que não se reconhece no corpo de uma menina. Foi essa música que inspirou o brasiliense G.F.O.S**, 18 anos, a tomar a decisão mais difícil de sua vida: iniciar uma difícil caminhada até conseguir assumir e exercer sua identidade de gênero.

Desde 2014, o Creas Diversidade articula esses processos em parceria com o Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública do DF | Foto: Paulo H. Carvalho/Agência Brasília

“Mensalmente, ele vem aqui, pois o acompanhamento precisa ser sistêmico. Não apenas dele, mas da família”, explica a psicóloga do Creas Diversidade, Karla Sindeaux. “A história do G.F.O.S é um relato de força e superação. Ele estava muito seguro de sua decisão e de seus objetivos. Então, corremos contra o tempo, para estar com tudo pronto assim que ele atingisse a maioridade”, complementa a agente social responsável pela articulação com a defensora pública do DF, Débora Lorena Almeida.

“Hoje, vejo meu filho feliz”, emociona-se a mãe, G.S**. “Quando veio a primeira menstruação, ele caiu em depressão”, relembra. De acordo com ela, o tema era um tabu na família, tanto que o jovem voltou a falar com o pai há pouco tempo devido ao preconceito, exatamente como na música citada no início deste texto. “Foram pescar juntos esses dias. Foi algo muito importante para eles”, finaliza.

Retificação de nome e gênero

O Creas Diversidade não faz o procedimento. Porém, por meio de uma parceria, desde 2014 articula tudo com o Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública do Distrito Federal, com base no Provimento nº 73/2018 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Ocorrem, em média, 20 atendimentos desse tipo todos os meses na unidade.

“É uma luta por dignidade e reconhecimento formal para pessoas que precisam enfrentar desafios diários simplesmente para serem vistos como são de fato”, destaca a secretária de Desenvolvimento Social, Ana Paula Marra.

Quem busca pela retificação de nome e gênero basta procurar o Creas Diversidade, seja diretamente na unidade ou por telefone ou e-mail – centrodadiversidade@sedes.df.gov.br ou creasdiversidade@gmail.com; 3773-7498 e 3773-7499. Os documentos necessários para retificação são RG, CPF, certidão de nascimento e título de eleitor.

*Com informações da Secretaria de Desenvolvimento Social do DF

**Os nomes das personagens foram abreviados para preservar o sigilo de suas identidades