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14/11/2022 às 17:55, atualizado em 14/11/2022 às 19:43
Com dois filmes do DF na mostra competitiva, 55º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro homenageia cineastas Jorge Bodanzky e Vladimir Carvalho
De certa forma, é o festival do retorno. Depois de dois anos realizada de forma virtual, a maior e mais representativa mostra de filmes do país volta a ocorrer em um formato que tem a cara original. Ou seja, pulsante, vibrante e altamente interativa. Uma das características marcantes do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (FBCB), que este ano segue para a sua 55ª edição, sempre foi e será a presença do público.
Crítica, irreverente, polêmica, mas sempre participativa, é a plateia do festival dos festivais, que ajudou a forjar a identidade do evento por meio de intensos e provocativos debates político-sociais. E reflete, por meio dos filmes projetados na tela mágica do Cine Brasília, como está e o que pensa o Brasil. Este ano, quase 1,2 mil títulos foram inscritos na mostra. Só do Distrito Federal foram 49 produções concorrentes.
Para o secretário de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal, Bartolomeu Rodrigues, “nada se compara ao prazer de ter de volta o Festival de Cinema à tela do Cine Brasília e ao calor das pessoas que se habituaram a interagir com os filmes, atores, diretores e produtores.”
Bartô, como o gestor é conhecido, espera, sinceramente, que o festival cumpra seu papel histórico “de questionamentos e renovação”. “O cinema cultural, o cinema entretenimento, o cinema negócio, tudo se mistura e está na mesa para os debates. Evoé, jovens cineastas!”, convoca o chefe da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec).
A partir desta segunda-feira (14) até 20 de novembro, a meca da sétima arte da capital brasileira vai fervilhar de gente ansiosa para acompanhar as mais de 40 produções originárias de todos os cantos da nação. Todas as cinco regiões do país terão filmes representados no encontro cinematográfico. Vinte e cinco desses títulos vão concorrer ao troféu Candango, um dos mais relevantes do segmento.
Paulista de São José dos Campos, formado em cinema pela Universidade de Brasília (UnB), José Eduardo Belmonte construiu sua carreira cinematográfica na capital federal, pela qual nutre grande carinho. Um dos playgrounds que ajudou a cimentar uma trajetória exitosa foi o Festival de Brasília.
Ele concorre na Mostra Brasília com o drama O Pastor e o Guerrilheiro. Além do filme, o cineasta participa do evento ministrando uma masterclass no dia 20 de novembro, das 15h às 17h, no Hotel Grand Mercure Brasília. Desde 2005, com A Concepção, que o diretor não filmava uma ficção na cidade, então é um retorno marcante.
“Estou muito feliz por estar voltando ao Festival de Brasília, muito honrado. E onde acontece o festival foi fundamental para a minha carreira, muito especial esse reencontro”, destaca. “E retorno a Brasília contando uma história que tem muito a ver com a minha própria história, muito UnB, coisas que acreditei e vi, lugares que passei, um retorno diferente, um olhar interessante, um momento muito generoso essa volta”, resume.
Um dos integrantes da comissão do júri que escolheu os filmes que vão concorrer à Mostra Brasília, o curador e crítico Sérgio Moriconi – também responsável pela programação do Cine Brasília – destaca a enorme diversidade de temas dos inúmeros filmes de longas e curtas do DF inscritos no encontro. O especialista chama a atenção para a descentralização do fazer cinema no DF, cada vez mais pulsante no Entorno, para além do Plano Piloto.
“O que o espectador pode esperar é uma enorme diversidade temática e de proposta estética, ótimos filmes de ficção, documentais e experimentais”, antecipa Moriconi. “Existe um impulso muito forte para fazer cinema em Brasília que não se restringe apenas a uma forma ou linguagem de fazer cinema, existe de tudo, se expandindo para satélites, desenhando o futuro do cinema de Brasília.”
Perto de completar 80 anos em dezembro deste ano, o veterano Jorge Bodanzky é o grande homenageado da edição histórica de número 55 do Festival de Brasília. Estudante de fotografia e cinema da Universidade de Brasília (UnB), no início dos anos 1960, foi aluno do mestre Paulo Emílio Salles Gomes, um dos fundadores da mostra, em 1965, e coleciona momentos afetivos com o Cine Brasília, o FBCB e a capital do país.
Em 1980, viu o seu filme Iracema – Uma Transa Amazônica (1975) ser exibido e vencer o evento após anos de censura. Este ano, além do inspirador Compasso de Espera (1969), único filme dirigido pelo homem de teatro Antunes Filho, o qual Bodanzky assina a fotografia, terá a exibição de dois trabalhos recentes.
Serão apresentados no festival deste ano o inédito Amazônia, A Nova Minamata? (2022) e o projeto autobiográfico Distopia Utopia (2020), exibido há dois anos no FBCB, mas virtualmente, por conta da pandemia da covid-19.
“Distopia Utopia conta a minha história como estudante da UnB e o meu sonho foi sempre exibir esse filme no Cine Brasília, o que vai acontecer agora”, conta, sem esconder a emoção. “Vários filmes meus têm Brasília como palco. Então, simbolicamente, para mim é o festival mais importante”, confessa.
Outras duas mostras paralelas compõem a edição enxuta do evento, que contará com seis dias de programação. Na Mostra Festivais dos Festivais, três filmes com passagens bem-sucedidas por outras competições país afora: do Ceará, A Filha do Palhaço, de Pedro Diógenes, narrando a conflituosa relação entre pai e filha; o paulista Três Tigres Tristes, de Gustavo Vinagre, sobre as peripécias de três indivíduos da comunidade LGBTQIA+, e o goiano Fogaréu, de Flávia Neves, produção que explora os segredos e origens de uma família pela ótica do agronegócio moderno.
Filmes antigos e contemporâneos compõem a Mostra Reexistências, trabalhos como o carioca Não é a Primeira Vez que Lutamos Pelo Nosso Amor, de Luis Carlos de Alencar; o amazonense Uýra – A Retomada da Floresta, de Juliana Curi; o paraibano Cordelina, de Jaime Guimarães, além da homenagem ao montador pernambucano Severino Dadá, com o documentário O Cangaceiro da Moviola, de Luís Rocha Melo.
No dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, antecedendo a premiação dos grandes vencedores da 55ª edição do FBCB, haverá uma sessão simbólica. A exibição do filme Diálogos com Ruth de Souza, da paulista Juliana Vicente, que reverencia a trajetória da grande atriz negra.
A data também devolve ao festival o Prêmio Zózimo Bulbul, concedido pelo festival em parceria com a Associação dos Profissionais do Audiovisual Negro (APAN) e o Centro Afrocarioca de Cinema.
O último filme do evento, em sessão especial, o documentário Quando a Coisa Vira Outra, de Marcio de Andrade, consagra a trajetória do cinema de Brasília. Vladimir Carvalho destrinchado de forma poética e afetiva pelo irmão Walter Carvalho.
“Eu sempre tive vontade de trabalhar com o Vladimir. Ele é um ‘menino’ muito inspirador, é uma figura inovadora e motivadora”, revela Andrade. “Fiquei muito feliz por essa homenagem que tem meu irmão Walter como narrador”, afirma o mestre Vladimir.
Serviço
55º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro
Data: De 14 a 20 de novembro
Local: Cine Brasília
Confira aqui a programação completa.