30/05/2023 às 10:53

Referências à África marcarão desfile das escolas de samba

Religiosidade, conhecimento e empoderamento estarão representados na passarela do grupo especial entre os dias 23 e 25 de junho

Por Agência Brasília* | Edição: Claudio Fernandes

A África, seu povo, suas mulheres, tradições e religiosidade, e o sincretismo entre os santos católicos e as religiões de matriz africana estarão presentes no desfile das escolas de samba do grupo especial do DF. Nesta segunda matéria da série semanal sobre as agremiações, você conhecerá aquelas que trazem o continente africano para o Planalto Central.

A Mocidade do Gama vai para o Eixo Cultural Ibero-americano com o enredo Jorge da Capadócia- Santo Guerreiro: Mocidade canta em devoção. A Águia Imperial de Ceilândia desfila contando a história da África – Berço da Civilização e Conhecimento. E a Acadêmicos da Asa Norte fala das Mulheres Pretas do Brasil.

São Jorge na passarela

Para a tradição ioruba, São Jorge é Ogum. Mas também pode ser Oxóssi. A imagem do santo católico de tradição guerreira foi associada a Ogum, especialmente no Rio de Janeiro, porque ambos são ligados à guerra. Já em Salvador, o santo guerreiro é Oxóssi, o orixá da sobrevivência, da caça dos animais, da fartura, do sustento. São Jorge, portanto, se tornou um dos santos mais populares do Brasil, sobretudo dos negros e das populações carentes, por ser relacionado diretamente à luta pela liberdade e sobrevivência.

No samba-enredo da Mocidade do Gama, São Jorge é Ogum e sua história será contada do nascimento até a consolidação como figura de devoção, tornando-se um dos santos mais queridos. Nascido na antiga região chamada Capadócia, hoje parte da Turquia, Jorge se tornou militar e lutou contra a decisão do imperador Diocleciano de eliminar os cristãos. Foi torturado e degolado por se negar a abandonar sua fé.

As escolas do grupo especial devem ter, no mínimo, dois carros alegóricos e um carro tripé, e contar com pelo menos 400 componentesesquerda

Em 11 alas, a agremiação promete trazer alegria pela retomada dos desfiles no DF e muita fé. “Nossa escola em particular, sem sede desde 2009, se viu sem local para realizar suas atividades sociais e sem espaço para guardar materiais”, conta Edilamar Melo de Oliveira, diretora geral de carnaval da escola. “Tivemos inúmeros prejuízos, perdemos carros alegóricos e tendas, entre outros materiais adquiridos ao longo dos anos. O mais triste, porém, é que não tivemos como dividir o samba e a arte com a população local da maneira certa, mas seguimos firmes”, detalhou.

Com recursos limitados, mas muita ajuda da comunidade, a escola reciclou materiais e está certa de que fará um bonito papel no desfile.

Samba, trabalho social e profissionalização

Em Ceilândia, outra Mocidade mudou de nome, tornou-se Água Imperial e já conquistou cinco títulos do grupo especial e mais de uma dezena de vice-campeonatos. Fundada em 1984, a escola conquistou seu primeiro troféu na categoria blocos em 1986. Já em 1990, subiu para o grupo de acesso e, em seguida, para o grupo especial.

Hoje, reúne sua comunidade na sede da QNP 11/15 em torno não só dos ensaios, mas também para aulas de percussão e cursos profissionalizantes. Entre as atividades mais buscadas – depois do samba –, estão a zumba, o muay-thai (boxe tailandês) e a capoeira.

Neste ano, a escola vai falar da África como começo. Tanto da espécie humana quanto do conhecimento, destacando o que foi construído no continente e sua importância para a história mundial. Nos últimos dias antes do desfile, o dirigente Geomá Leite, o Pará, que atua no Carnaval de Brasília há mais de 50 anos, diz que o frio junino não deve atrapalhar a animação dos foliões.

Carnaval intelectual

O samba da Acadêmicos da Asa Norte começou em 1969, quando estudantes da Universidade de Brasília começaram a se reunir no Bar Intelectual, na 405 Norte. Da referência surgiu o nome de um bloco, que venceu os carnavais de 1970 a 1973 e se tornou escola de samba em 1973, conta o vice-presidente Robson Souza.

Integrante da escola desde 1973, ele diz que a relação entre a comunidade e a escola nunca perdeu a força. “Nem mesmo quando ficamos sem desfile oficial”, diz. Na quadra da escola, que fica na SCEN Trecho 3, na Asa Norte, sempre ocorreram ensaios e feijoadas. O espaço também é alugado para eventos, o que abasteceu o caixa durante o período de “vacas magras”.

Este ano a escola vai contar a história de mulheres que se destacam na história do Brasil, além da mulher simples, trabalhadora. Na avenida, estarão presentes desde as primeiras mulheres pretas do Brasil até as que se destacam por seus feitos na história do País.

Regras para o desfile

Grupo de acesso: deve ter, no mínimo, um carro alegórico e um carro menor chamado de tripé. O desfile deve contar com pelo menos 200 pessoas.
Grupo especial: deve ter, no mínimo, dois carros alegóricos e um carro tripé, e contar com pelo menos 400 componentes.

*Com informações da Secretaria de Cultura e Economia Criativa