09/11/2023 às 15:25, atualizado em 10/11/2023 às 08:11

Gestão de antibióticos é tema de treinamento de profissionais da saúde

A partir de ensinamentos adquiridos durante um ano de mentoria, Hospital da Criança de Brasília obtém economia e segurança na utilização de antimicrobianos

Por Agência Brasília* | Edição: Chico Neto

Profissionais do Hospital da Criança de Brasília José Alencar (HCB) concluíram o treinamento de um ano no programa para uso racional de antimicrobianos desenvolvido pelo Hospital Pequeno Príncipe, do Paraná. A iniciativa, chamada Stewardship, busca oferecer mais qualidade e segurança nos tratamentos realizados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) – e, no HCB, proporcionou bons resultados também no aspecto financeiro.

“Foi um projeto que iniciamos em parceria com o Hospital Pequeno Príncipe e a Pfizer, que é o patrocinador inicial”, conta o gerente de Suprimentos e Logística do HCB, Leandro Machado. “Eles já têm uma experiência muito vasta e queriam transpor isso para hospitais parceiros; escolheram dez hospitais de todo o Brasil com UTI pediátrica e neonatal, e o Hospital da Criança de Brasília foi uma das instituições selecionadas.”

Modelo internacional

A colíder do programa Stewardship de Antimicrobianos do Hospital Pequeno Príncipe, Marinei Campos Ricieri, explica que essa forma de gestão dos antibióticos foi desenvolvida no exterior: “É um modelo americano/europeu, mas fomos os primeiros a aplicar aqui no Brasil. Analisamos os resultados e, em função de nossa experiência, consideramos passá-la adiante para outras instituições.”

“Quando se faz bom uso dos medicamentos – em especial, dos antibióticos -, consegue-se passar esse antibiótico para via oral, diminuir o tempo de hospitalização, e todo mundo ganha com isso” Cléia Ribeiro, farmacêuticaesquerda

O Stewardship difere de outras formas de controle de antimicrobianos por ser um programa centrado no farmacêutico clínico – responsável por verificar se a medicação está correta e se é administrada durante o tempo certo, além de prevenir e solucionar problemas relacionados aos antimicrobianos. Esse profissional avalia questões como efeitos adversos do medicamento prescrito e riscos de associação com outras substâncias.

“Esse acompanhamento mais de perto, de se preocupar com escalonamento, foi uma novidade”, avalia a farmacêutica Cléia Ribeiro, que participou da mentoria. “Quando se faz bom uso dos medicamentos – em especial, dos antibióticos -, consegue-se passar esse antibiótico para via oral, diminuir o tempo de hospitalização, e todo mundo ganha com isso.”

Atuação dos farmacêuticos

Além de treinamentos semanais com a equipe do Pequeno Príncipe, Cléia manteve contato constante com os representantes do hospital paranaense. “Para fazer intervenção no antibiótico, você precisa do conhecimento; então, eu precisava procurar quem era munido desse conhecimento, para tirar o máximo que elas tinham para oferecer”, explica.

Centrado no farmacêutico clínico, o programa influencia o trabalho de médicos intensivistas e infectologistas, além dos outros profissionais envolvidos no tratamento. “Um benefício do Stewardship é esse alinhamento da comunicação centrada no farmacêutico, que faz a informação chegar a todos da equipe”, pontua Marinei Ricieri.

Entre esses profissionais, está o médico infectologista e coordenador do Serviço de Controle de Infecção do HCB, Bruno Lima. “O farmacêutico, uma vez que está treinado, pode fazer orientações relativas aos protocolos do hospital, pode intervir”, avalia. “Conforme o treinamento vai avançando, ele pode fazer outros tipos de orientação baseados no perfil do paciente, em alguma doença de base, adequar a terapêutica”.

Custos reduzidos

Durante o período de mentoria, a equipe do Hospital promoveu  291 intervenções seguindo os parâmetros do Stewardship: todas as crianças internadas na UTI que estavam em uso de antibióticos foram avaliadas.

“O processo adiciona mais camadas de segurança, do ponto de vista de controle de dose, de diluição, de controle de interações medicamentosas; tudo isso é gestão de risco”, afirma Bruno Lima.

Além da qualidade e segurança no tratamento, a racionalização de medicamentos apresenta pontos positivos na gestão de recursos financeiros da instituição.

“No tempo de tratamento, você pode chegar a um ponto com o paciente em que pode fazer uma troca: sair do antibiótico venoso para o antibiótico oral”, orienta o gerente Leandro Machado. “Isso também diminui custos, diminui tempo de UTI e risco de infecção. Fizemos isso na UTI do HCB e tivemos bons resultados, uma economia de R$ 365 mil.”

Embora a mentoria do Stewardship tenha tido como foco a Unidade de Terapia Intensiva, o HCB já avalia formas de aplicação em outras áreas. “Vamos promover o projeto para muito tempo”, anuncia Leandro. “Aprendemos e, agora, estamos colocando em prática, com pretensão de expandir para as internações”. 

*Com informações do HCB