07/05/2019 às 14:54, atualizado em 12/07/2019 às 16:05

HRT expande a capacidade do serviço de diálise peritoneal

Mais eficaz e humanizado, o tratamento tem atraído a confiança de muitos pacientes

Por Agência Brasília *

Há exatamente um ano, o agricultor Ramão Capoe, 64 anos, viu sua vida se transformar para melhor. Ao implantar o cateter e receber treinamento para a diálise peritoneal, no conforto de sua casa, em Padre Bernardo, sentiu sua vitalidade e vontade de trabalhar voltarem. Com a ajuda da filtragem diária, seu coração ficou mais aliviado, sem a sobrecarga que vinha recebendo devido ao mau funcionamento dos rins. As complicações na saúde de Ramão tiveram origem no diabetes do tipo 2, diagnosticado em 1998.

Contando com Ramão, ao todo, existem 103 pacientes fazendo diálise peritoneal no Hospital Regional de Taguatinga (HRT). No Distrito Federal, a quase totalidade desse serviço é realizada pelo HRT. A unidade tem capacidade para atender até 200 pacientes para esta terapêutica.

Experiência

 “Tive um princípio de Acidente Vascular Cerebral [AVC] em 2015”, conta Ramão. “A cardiologista me encaminhou para o nefrologista e foi aí que eu descobri que também tinha problemas nos rins. Fiz tratamentos paliativos no Hospital Regional de Ceilândia, até que a médica viu a necessidade e me indicou a diálise peritoneal. Em 20 dias, eu fiz o treinamento e coloquei o cateter no HRT. Depois disso, minha disposição melhorou 90%”.

Durante um tempo, Ramão cuidou da saúde na rede privada. Por causa do alto custo, buscou o serviço público e sentiu uma grande diferença – o tratamento humanizado. “A rede pública é difícil de acessar, mas a relação médico-paciente é muito boa, é muito diferente”, elogia. “Eles são atenciosos e mostram interesse em ajudar a gente. Na rede privada, o médico não dá tanta atenção, e a espera por uma consulta, mesmo marcada com antecedência, pode levar horas.”

Pacientes no DF

Em 2012, havia 165 pacientes em diálise peritoneal. Hoje, são 383 renais crônicos, que recebem o tratamento na rede pública e conveniada do Distrito Federal. Esse número representa um aumento de 132,12% em sete anos, segundo dados da Central de Regulação Interestadual e de Alta Complexidade (Cerac). Existem, ainda, outros 1.247 pacientes em hemodiálise.

Na hemodiálise, o Hospital Regional de Taguatinga atende no limite da sua capacidade. São 96 pacientes utilizando as 28 máquinas nos períodos da manhã, tarde e noite, de segunda a sábado, além dos 103 em diálise peritoneal. Parte desses pacientes vem do entorno do DF, como Ramão, que vê como um dos benefícios do seu tratamento o fato de não necessitar ir ao hospital três vezes por semana.

Diálise peritoneal

A filtragem do sangue a que Ramão se submete todos os dias é apresentada com uma das opções de tratamento disponíveis para insuficiência renal crônica terminal. É uma técnica fisiológica, que utiliza a membrana peritoneal (envolve os órgãos abdominais).

O órgão atua como um filtro do sangue, removendo o excesso de água e as toxinas do corpo. Também denominado autodiálise, o processo é realizado por pelo próprio paciente ou por um familiar próximo. O dialisante é introduzido na cavidade peritoneal através de um cateter colocado na parte inferior do abdome.

“Esse processo é contínuo e imita a ação do rim”, explica o nefrologista Gladson de Paiva Ferreira, do HRT. “Proporciona ao doente uma diálise contínua, sem os altos e baixos do tratamento de hemodiálise, que é normalmente intermitente. Ela é feita todos os dias. E, durante dez horas, em média, é realizado o processo de filtragem, geralmente enquanto o paciente dorme. Uma vez por mês, o paciente realiza uma consulta de acompanhamento”.

A técnica

De acordo com o especialista, existe uma disponibilidade maior para o atendimento de diálise peritoneal de novos pacientes do que para a hemodiálise – fator que justifica, em parte, o aumento significativo do uso dessa técnica. “Como é um tratamento realizado em casa com uma máquina portátil, fica mais fácil iniciar”, esclarece.

“Ainda tem a vantagem de o paciente realizar suas atividades normalmente, inclusive podendo viajar, trabalhar, curtir férias. Em termos de custos, a diálise peritoneal é mais barata, pois não necessita de espaço físico nem de tantos profissionais”. Nem todo mundo, no entanto, pode se utilizar dessa técnica, alerta o médico: “O paciente passa por uma série de avaliações, como a situação da casa, as condições de apoio da família. Tudo precisa ser verificado”.

Residência

Gladson Ferreira também destaca que o HRT é o único hospital da rede pública onde os residentes de medicina têm a oportunidade de conhecer e trabalhar com a diálise peritoneal. “É um passo muito importante na formação do profissional nefrologista, para ele conhecer as diferentes possibilidades de tratamento para os doentes renais crônicos na prática”, ressalta. “E são muitas as vantagens de iniciar por essa técnica, inclusive por proporcionar maior expectativa de vida para quem espera por um transplante.”

* Com informações da Secretaria de Saúde