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17/06/2019 às 12:35, atualizado em 17/06/2019 às 15:01
A mudança, verificada em todas as modalidades de ensino – de creche à Educação de Jovens e Adultos – , se tornou possível a partir de uma eficiente gestão orçamentária do Governo do Distrito Federal. Agricultura familiar é diretamente beneficiada
“A alimentação escolar vem evoluindo e a gente conseguiu fazer várias modificações por conta de melhorias no controle de estoque e de maior orçamento disponibilizado para alimentação”, explica a diretora de Alimentação Escolar da SEE, Kellen Pedrolo. “Com isso, conseguimos fazer várias gestões, o que permitiu otimizar a utilização dos nossos recursos na aquisição de gêneros mais saudáveis e ampliar a compra de agricultura familiar”.
Nas escolas da capital, foi registrado chegou a 43,1% o índice de diminuição de biscoitos industrializados a chegar aos estudantes. A projeção é de uma redução de 690 toneladas ao ano de alimentos pobres em nutrientes, em comparação a 2018. Já a carne fresca, in natura, aparece mais na alimentação. Isso porque são 63,3% menos produtos enlatados no cardápio e mais 64,5% das carnes “de verdade” nos pratos – até o fim do ano, serão mais 1,6 mil toneladas nos colégios.
Atualmente, todos os alimentos são aproveitados – como os talos de couve, que se transformam em ingrediente para sucos verdes. A quantidade de sucos industrializados, a propósito, foi zerada, enquanto 119.800 litros ainda eram adquiridos no ano passado.
Frutas e hortaliças
Os dados do Programa de Alimentação Escolar do Distrito Federal indicam que o aumento da oferta semanal de frutas, verduras e legumes ocorre em todas as modalidades de ensino se comparados os cardápios distribuídos em 2019 aos de 2018. O crescimento foi de 54% nas escolas que fornecem uma refeição por dia; de 96,89% naquelas com dois pratos diários; de 47,89% nas instituições de ensino especial; de 69,19% no ensino – com três refeições – e de 80,15% nas creches.
Para este ano, o investimento é o maior no total em contratações realizadas, especificamente da agricultura familiar, para alimentação escolar no DF. Serão investidos R$ 18.923.494 na aquisição de 30 produtos – 55% a mais que os R$ 12 milhões contratados no ano passado, após reajuste do Tribunal de Contas da União (TCU). A estimativa para o fomento da economia local é que, a cada R$ 1 investido na economia, R$ 3 retornem em contrapartida. Assim, a perspectiva é que R$ 56,7 milhões retorne neste ano. A ampliação do programa foi possível a partir do aumento de 35% no valor repassado pelo governo federal ao GDF.
Cardápio especial para alunos da EJA
Quase nove mil pessoas estudam à noite, após um dia inteiro de trabalho, para poder concluir a formação. São 8.866 adultos que voltam à sala de aula para fechar o ciclo de ensino em 34 escolas do Distrito Federal. Nesses locais não é servida merenda, mas um cardápio reforçado – muitas vezes, um jantar completo. Segundo a Secretaria de Educação, isso é possível porque a melhoria nos investimentos feitos pelo GDF permitiu o rearranjo dos cardápios e a oferta da refeição.
Esse tipo de refeição na escola faz com que o aluno tenha segurança alimentar no ambiente escolar, faz com que consolide a aprendizagem; consequentemente não há evasão” assinaturaKellen Pedrolo, diretora de Alimentação Escolar da SEEesquerda
“Esse tipo de refeição na escola faz com que o aluno tenha segurança alimentar no ambiente escolar, faz com que consolide a aprendizagem; consequentemente não há evasão”, avalia Kellen Pedrolo. A gestora conta que a maioria dos estudantes é formada por adultos que trabalharam durante todo o dia e, à noite, persistem no objetivo de estudos. “É garantia de um bom final de dia, de trabalho e de aprendizagem digna, com aporte nutricional adequado para que a pessoa possa ter condições adequadas de permanência e consolidação do que aprendeu”, avalia.
Além do ganho nutricional, há fomento econômico e da produção rural local, reconhecimento da atividade agrária e valorização do alimento desde a origem. Da agricultura familiar, saem produtos nutritivos e com menos danos sofridos desde o plantio até a entrega, já que não é praticado o uso de pesticidas e o tempo de transporte é curto.
O supervisor pedagógico do Centro Educacional 02 de Brazlândia (CE 02), Adiron Raynes Castro, diz que, analisando o perfil socioeconômico dos estudantes da EJA, eles dependem desse lanche. “Não há rendimento do alimento sem uma merenda reforçada; é indispensável”, destaca. Na instituição de ensino de Brazlândia, há seis turmas dessa modalidade. Ao todo, 200 alunos estão matriculados. Para alimentar tanta gente, são necessários, em média, 20 kg de carne e 7,5 kg de arroz.
Duas merendeiras preparam, com carinho, a refeição dos estudantes. Ivonete Santos, 44 anos, é uma delas, e revela: “Faço com amor. Procuro sempre fazer o melhor, o mais gostoso possível. É como se eu estivesse fazendo a comida da minha casa, para o meu filho. E é muito bom quando eles dizem: ‘tia, está muito bom’”.
Tempero especial
Ivonete conta que o sabor das refeições ganhou um incentivo especial quando a escola começou a receber mais especiarias para o preparo dos pratos. “Antes era só sal e óleo; agora, além das verduras, temos temperos, salsa, cebolinha, pimentão e alho.” Neide de Moraes, 42 anos, ajuda Ivonete a preparar a comida e garante: “Os temperos dão um toque especial”.
Antes era só sal e óleo; agora, além das verduras, temos temperos, salsa, cebolinha, pimentão e alhoIvonete Santos, merendeiraesquerda
Os estudantes fazem fila para receber as refeições. O aposentado Domingos Pereira de Sousa, de 72 anos, sempre garante seu prato. “A merenda é bem gostosa e me ajuda a conseguir ficar até o final das aulas”, diz. Morando no Distrito Federal desde 2013, ele escolheu o Incra 8 para seu endereço. Há dois anos, voltou a estudar e cursa o terceiro ano do ensino médio na modalidade EJA, com previsão de formatura em julho próximo.
Domingos sempre foi trabalhador rural no Maranhão, de onde veio. “A coisa melhor do mundo é estudar”, comemora. “Hoje consigo entender melhor as coisas, tenho mais informação e fiquei mais curioso também. Trabalhei muito na roça e não tinha tempo para estudar. Precisava plantar, colher, vender os produtos na feira e ajudava meu pai a fazer cachaça. Na época, fiz somente até a quarta série.”
Desempregado, Matheus Malheiro, de 19 anos, morador do Setor Habitacional Cascalheira, em Brazlândia, também considera a refeição importante. “Quando chega a hora da merenda, já estou com muita fome”, comenta.“É uma alimentação bem reforçada, e é bem melhor que comer besteiras.”
Erinelson Lopes da Silva, de 21 anos, é auxiliar de serviços gerais e trabalha oito horas por dia. Após a jornada, é hora de ir para o CED 02 de Brazlândia, onde cursa o segundo ano do ensino médio EJA. A merenda escolar é sua terceira refeição do dia. “Quando chego à escola, já estou com fome, e, se não fosse a merenda, não conseguiria assistir às aulas até o final”, revela.