22/08/2019 às 11:36, atualizado em 23/08/2019 às 17:00

Andarilhos das mensagens

A primeira agência dos Correios do DF foi inaugurada em 1958, enquanto a administração central chegou na década de 1970. Conheça a epopeia de alguns carteiros veteranos pelos endereços atípicos da cidade

Por Lúcio Flávio, da Agência Brasília

Prédio antigo dos Correios funcionou até 1973 no Cruzeiro Velho  | Foto: Arquivo Público / Divulgação

Erros e intimidades

Originais, as localizações de Brasília eternizaram endereços como W3, L2, SQS, SQN, SHIS, SCS, SCN – que, como tantos outros, já estão incorporados à cultura da cidade, fixados no inconsciente dos moradores. Mesmo assim, essa familiaridade local não é suficiente para evitar confusões na vida dos carteiros. “O maior problema nosso aqui, até por essa diferença nos nomes, é que o pessoal escreve muito o endereço errado e, se errar uma letra, um número, já viu, atrapalha tudo”, explica Dário, com o respaldo de uma larga experiência no assunto.

Lotado na agência da 508 Norte, Gilvanézio Santana, mais de 20 anos de Correios, comunga da opinião do colega de profissão Dário Dantas sobre os equívocos. No seu ofício, quando se trata do DF, um detalhe pode fazer enorme diferença. “Às vezes, a pessoa troca uma letra e a carta fica rodando, sem achar o destino, então vai do esforço do carteiro em decifrar o que está errado e conseguir encontrar o endereço certo, completar o serviço com qualidade e integridade”, diz.

Trabalho intenso

A jornada diária de um carteiro é puxada, sobretudo para um profissional na idade de Dário Dantas, com cinco décadas de estrada e muitos endereços percorridos. Num período do dia, o trabalho se resume a entregar as correspondências. No outro, é preciso fazer a triagem do que será distribuído pela cidade no dia seguinte. Experiente, Dário Dantas flana pelas ruas com a leveza de um beija-flor, conhece todos os macetes, sinais e esquinas de Taguatinga Norte, onde faz a entrega das suas missivas, indo da Comercial às residências da QNE 1, 2 e 6.  Nessas longas caminhadas bairro adentro, é comum um motorista abordá-lo pedindo ajuda para encontrar alguma localidade específica. O carteiro não titubeia.

“A gente anda muito, todo dia no mesmo lugar”, relata Dantas, que também já trabalhou em Taguatinga Sul e no Plano Piloto. “Só de Guará I e II foram 22 anos, então conheço bem os endereços, em alguns casos, ficando conhecido dos moradores que até nos chamam pelo nome.”

Ah, sim, houve sinais do futuro que esses andarilhos das mensagens perceberam ao longo dos anos. O tempo não para e não parou só para eles, mas afetou diretamente a própria ferramenta em que trabalham diariamente. “Se brincar, a garotada de hoje nem sabe o que é selo”, arrisca Gilvanézio Santana. E Dário reforça: “Hoje entregamos mais correspondências registradas, as pessoas estão mais modernas, usam mais a internet. É raro ter carta, uma ou outra”.