28/02/2020 às 12:32, atualizado em 28/02/2020 às 15:44

Carlos Valença, um homem do frevo, do choro e da banca de revistas

Nascido no Recife e criado em São Bento do Una, terra de Alceu Valença, o aposentado Carlos Bastos Valença, 67 anos, respira música em Brasília. Desde 1997, os laços com a cidade se tornaram notas musicais e composições

Por Agência Brasília*

[Numeralha titulo_grande=”54″ texto=”dias para os 60 anos de Brasíliacentro

 

Em homenagem à capital federal, formada por gente de todos os cantos, a Agência Brasília está publicando, diariamente, até 21 de abril, depoimentos de pessoas que declaram seu amor à cidade. 

 

 

 

Vim parar aqui em 1997 porque casei com uma mulher de Brasília (Terezinha de Queiroz Valença). Ela foi para o Projeto Rondon, a conheci lá e no mesmo ano a gente casou. Vim para ver se as coisas melhoravam. Terminei trabalhando na Bahia, em Luís Eduardo Magalhães, e vinha todo final de semana para cá.

Quando cheguei em Brasília para conhecer a família da minha esposa eu me apaixonei. Passei um bocado de tempo para me estabilizar aqui porque tinha atividades em Pernambuco. Mas, agora, estamos aqui e consegui essa banca (Copacabanca, na 208 Sul). Lá no Recife minha última atividade foi um trio elétrico. Tenho mais dois irmãos, mas um trio não dava para sustentar os três. Então, pensei: vou-me embora. Vim porque sabia que aqui tinha alguma coisa.

 

Gosto da cidade. A arquitetura dela, desde o Plano Piloto. O desenho da cidade é alguma coisa fantástica. Quando a conheci eu disse: ‘rapaz, isso aqui para criar menino é uma beleza’. De qualquer forma fiquei, achei muito interessante. Escola lá em Recife eu pagava e aqui tinha uma escola pública bem melhor.

Continuo gostando de Brasília. O espaço de ocupante é um espaço eu consegui ter. Essa roda de choro na banca (aos sábados) veio de uma das escolas de choro que participei no Clube do Choro. 

Enxergo em Brasília essa mistura, principalmente agora. Está uma diversidade grande de arte na cidade. O pessoal está desenvolvendo muita coisa, assim, diferente. Já vão inventando ritmos e modos de viver. Do tempo que cheguei aqui o Carnaval cresceu demais, por exemplo.

Está uma diversidade grande de arte na cidade. O pessoal está desenvolvendo muita coisa, assim, diferente. Já vão inventando ritmos e modos de viver.esquerda

Faço parte de comunidade da Igrejinha da 308 Sul com frades franciscanos. Isso aí é outra coisa, além da escola de choro, que fiquei muito bem com o pessoal da igreja. Toco e canto lá na Igrejinha aos sábados. Todo sábado saio daqui e vou para lá.

Pretendo sair daqui, não. Recebi um convite de um casal de Pernambuco, do Galinho de Brasília, Dinaldo Domingues e Dulce Domingues. Eles me convidaram para participar de um bloco lírico. Bloco lírico lá em Pernambuco é criado para as mulheres cantarem. É um grupo, os instrumentos do choro… Flauta, cavaquinho, bandolim, essas coisas, e aí aceitei na hora. Ia sempre aos carnavais em Recife, mas em minha cidade, São Bento do Una, a gente fazia um Carnaval bem tranquilo. Cidade do interior, vai de casa em casa. A diferença do estilo é que no choro é só instrumental, mas aí a gente acrescenta o coral feminino. Tento colocar nas músicas que canto a tonalidade feminina, para elas poderem cantar. Elas é que são mais importantes.

Qual a música que identifico mais em Brasília? Estou fazendo esse bloco (Alvorada do Planalto). Ele tem um hino que foi feito pelo Gustavo Travassos, filho do eterno presidente do Galo da Madrugada, Enéas Freire, e aí ele botou uma coisa muito interessante: ‘Eis que surge cantando na terra da Alvorada pierrôs e arlequins / Palhaços brincantes brincando, levando alegria a todos os jardins / Dom Bosco um dia sonhou, Juscelino tornou o seu sonho real / Brasília, tu és a rainha de um sonho futurista que se fez capital / A alvorada no Planalto surgiu, o teu céu coloriu para teu povo brincar / Alvorada do Planalto é o primeiro, nosso bloco pioneiro a Brasília cantar’.

Uma coisa muito interessante é que estou tão bem aqui que comecei a virar compositor. O Dinaldo Domingues (compositor) deixa livros de poesia aqui na banca e pediu para eu ir musicando umas poesias dele. Para mim, estou começando agora em Brasília. A semente já foi plantada. Continuo cantando tanto as músicas do Recife quanto as daqui. E estou procurando poetas para fazer letras interessantes e colocar a música no ritmo de frevo e de bloco para continuar a exaltar mais Brasília.” 

Carlos Bastos Valença, 67 anos, dono de banca de jornal e apaixonado por música

  • Depoimento concedido ao jornalista Ian Ferraz