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05/03/2020 às 10:00, atualizado em 05/03/2020 às 10:04
Funcionário do Departamento de Parques e Jardins, da Novacap, ele dedicou 40 anos de sua vida a embelezar a capital. Brincalhão e grande contador de causos, Ozanan morreu em 2016, aos 72 anos
Abriu, com dois colegas da Novacap, uma empresa especializada no plantio de gramas. “Não me aposentei com a intenção de trabalhar. Eu disse: ‘Vou ficar em casa e aproveitar o resto da minha vida.’ O primeiro e o segundo mês, achei bom demais. No terceiro, começou a me dar um tédio louco e eu já estava aprendendo a fazer bolo com a Ana Maria Braga”, contou, em entrevista ao jornal Correio Braziliense, em outubro de 2015.
Ozanan era assim, brincalhão e grande contador de causos. Adorava boas histórias, ria alto, soltava palavrões vez ou outra. Mesmo depois de tanto tempo em Brasília, nunca perdeu o sotaque nordestino. Quem lembra é o chefe da Divisão de Implementação de Áreas Verdes da Novacap, Raimundo Gomes Cordeiro, 60 anos, que trabalhou mais de três décadas com Ozanan, até ele se aposentar. “Quando ele começava a contar um causo, podia esquecer. Ia longe”, diz. “Era uma pessoa muito boa”.
Primeiro a chegar e o último a ir embora, Francisco Ozanan era dedicado e cobrava resultados dos subordinados no DPJ, que chegaram a somar duas mil pessoas. Isso lhe deu fama de nervoso entre os que não conviviam com ele. “Algumas pessoas falavam que ele era bravo. Eu não achava. Ele era firme, mas era extremamente justo e nunca era arrogante”, conta Cordeiro, que chegou à Novacap na década de 1980. “E ele tinha uma capacidade incrível de motivar a equipe. Envolvia todo mundo no projeto, foi o melhor chefe que já tive”, elogia.
Em 1991, Ozanan agiu como super-herói da natureza. Um homem atacou o buriti solitário que dá nome à Praça do Buriti, no Eixo Monumental, em um protesto político. O indivíduo quase derrubou o buriti com um machado, mas foi preso pela polícia. Ozanan coordenou a operação de salvamento da árvore, que é tombada pelo Patrimônio Histórico. Colocou estacas de contenção, cobriu o buraco no tronco com uma resina grossa e criou uma proteção de ferro para deixar a árvore de pé. O buriti sobreviveu e continua no mesmo lugar até hoje.
No mesmo ano, o agrônomo deu início a um novo projeto que trouxe ainda mais beleza para a capital: o paisagismo dos balões de trânsito. O primeiro deles foi o Balão do Aeroporto, onde diferentes espécies de flores são plantadas a cada época do ano. Cada uma delas tem uma cor diferente.
Agora, por exemplo, todas ostentam tons de amarelo. Semanalmente, a Novacap faz manutenção no local e, na época de seca, um sistema de irrigação garante que o jardim seja aguado.
Hoje, são 600 balões floridos em todo o DF. Ozanan tinha os seus preferidos. Além do Balão do Aeroporto, ele gostava da disposição das plantas no balão da 201 Sul, em frente à Polícia Federal.
“Os balões coloriram a cidade. Ele sempre dizia que o paisagismo era o último a ser feito em uma obra, igual a pintura”, lembra Cordeiro.