19/03/2020 às 10:30, atualizado em 19/03/2020 às 17:01

Dona Sarah Kubitschek, o braço direito de JK

Ex-primeira-dama do Brasil, a mineira desempenhou importante papel na construção de Brasília e foi idealizadora do museu mais famoso da capital  

Por Ana Luiza Vinhote, da Agência Brasília

Foto: Tony Oliveira

O bisneto André Kubitschek acredita que se tivesse tido a chance de conviver com a bisavó a relação dos dois seria ótima. Foto: Tony Oliveira/Agência Brasília

Um dos maiores feitos da associação foi a criação do Centro de Reabilitação Sarah Kubitschek, em 1960 – referência no atendimento de reabilitação no país. Atualmente, além da unidade em Brasília, há hospitais em outras capitais: Belo Horizonte, Belém, Fortaleza, Macapá, Salvador, São Luís e Rio de Janeiro. Dona Sarah decidiu criar o centro após os problemas de coluna da filha Márcia. 

Outro pedido dela foi a construção da Igrejinha de Nossa Senhora de Fátima, localizada na 307/308 Sul. O bisneto André relembra que o primeiro templo religioso faz parte de uma promessa de cura que a bisavó fez, caso a avó Márcia melhorasse da coluna. O local, projetado por Oscar Niemeyer e revestido com azulejos de Athos Bulcão, é um dos principais pontos turísticos de Brasília.   

Outro ponto da capital que carrega o nome da ex-primeira-dama do Brasil é o Parque da Cidade Sarah Kubitschek, antes nomeado Rogério Pithon de Faria, filho do ex-governador Elmo Serejo Farias. Localizado na Asa Sul, o espaço é um dos centros de lazer ao ar livre de Brasília e conta com quadras de esportes; centro hípico; pistas de caminhada, patinação e ciclismo; e parque de diversões, entre outros.        

Memorial JK

Um mês após a morte de JK em um acidente de carro, Sarah decidiu que construiria um memorial que perpetuasse a história daquele que ousou erguer Brasília no meio do Cerrado. Mesmo durante o regime militar, ela percorreu o país para arrecadar recursos e doações em prol da obra. O ato contou com o apoio de políticos, amigos e familiares. O então presidente João Figueiredo cedeu o terreno e Oscar Niemeyer fez o projeto.

A obra foi feita em 17 meses. São 120 metros de comprimento, 32 metros de largura e um pedestal de concreto armado de 28 metros de altura, de onde sai uma grande mão em forma de concha e protege a estátua em bronze, feita por Honório Peçanha, de onde JK acena para a cidade. 

Em 12 de setembro de 1981, data do aniversário de Juscelino, o Memorial JK foi inaugurado. O local reúne um acervo de relíquias que contam a história por trás da epopeia da cidade, da vida e obra do ex-presidente da República, uma reconstrução da biblioteca pessoal, a sala de metas para seu governo, maquetes, vestes e imagens da construção e inauguração da capital que no próximo mês completa 60 anos. 

Os espelhos d’água, as rampas de acesso, e o verde do gramado e dos jardins emolduram o edifício monumental, todo em mármore branco contrastando com o céu da capital. No jardim, uma escultura de Dona Sarah abraçada ao presidente convida o visitante a conhecer um pouco da história do Brasil. Um pequeno monumento de granito negro reproduz uma das frases do ex-presidente. Às vésperas do aniversário do ano passado, o local passou por manutenção externa que deixou a fachada com cara de nova.  

Eurícles Antônio de Oliveira, 65 anos, foi um dos primeiros funcionários do monumento e conviveu com Dona Sarah durante os anos de gestão da ex-primeira-dama à frente do Memorial.

“Ela sempre falava com a gente quando chegava e saía, à tarde, quando costumava vir. Muito chique e simpática, fazia questão de dar atenção especial aos funcionários. No final do ano reunia a gente no gabinete dela para desejar Feliz Natal e Ano Novo”, lembra o recepcionista. 

Também na sala de Sarah, com jardim de inverno feito pelas mãos de Roberto Burle Marx e que guarda objetos pessoais e fotografias da época, é que os empregados do Memorial preparavam religiosamente uma festa surpresa para comemorar o aniversário da ex-primeira dama.

“Encomendávamos bolo, salgados, docinhos e refrigerantes para cantar parabéns para ela. Sabíamos que ela ficava muito feliz com esse carinho”, garante Eurícles, que também foi motorista dela. 

Despedida

Sarah Kubitschek morreu em 4 de fevereiro de 1996 e sua partida deixou saudades. O bisneto André Kubitschek acredita que se tivesse tido a oportunidade de conviver com a bisavó a relação dos dois seria ótima. “Diziam que ela era uma pessoa bem humorada e eu também sou assim. Ao mesmo tempo que ela era super elegante, formal e alinhada, ela também era carismática, super família. Minha bisavó unia a imagem pessoal e social”, comenta. 

Outro ponto que chamava a atenção, segundo André, era o sexto sentido para a política. “Ela sabia fazer essas leituras. Naquela época, infelizmente, a mulher ocupava papéis secundários nessa área, mas ela estava sempre ali advertindo riscos para o meu bisavô”, explica.  

Autora do livro Todas as mulheres dos presidentes, junto com Murilo Fiuza, Ciça Guedes afirma que a atuação da ex-primeira-dama da República foi fundamental para que Juscelino conseguisse tirar suas propostas do papel. “Ele conseguiu cumprir 70% do plano de metas do seu governo. Isso é um feito histórico graças ao senso de cumprimento de prazo dela. Ela pegava no pé dele para que o que foi prometido fosse cumprido”, conta.