23/03/2020 às 13:00, atualizado em 21/03/2020 às 19:25

Gustavo Chauvet, história viva do Plano Piloto

O historiador brincou com argila no riacho da 413/414 Norte, estudou na Escola Classe 305 Sul, frequentou a Escola Parque e se divertiu, com a família, no Clube Unidade de Vizinhança, entre tantas coisas…

Por Agência Brasília*

[Numeralha titulo_grande=”31″ texto=”dias para os 60 anos de Brasíliacentro

Em homenagem à capital federal, formada por gente de todos os cantos, a Agência Brasília está publicando, diariamente, até 21 de abril, depoimentos de pessoas que declaram seu amor à cidade.

 

 

“Meus pais se mudaram do Rio de Janeiro, para Brasília em 1961. Minha mãe era professora de artes na Escola Parque da 307/308 Sul. Meu pai era professor de inglês, no Centro de Ensino Médio Elefante Branco, hoje localizado na 908 Sul. Nasci em janeiro de 1963, na cidade de Niterói (RJ), interrompendo as férias dos meus pais. Com 15 dias, voltei com eles para Brasília, a bordo do automóvel DKW/Vemag. Vivi até os 11 anos na 406 Norte, com muitas boas lembranças. Estudava na Escola Classe 305 Sul, e todos os dias, à tarde, “descíamos para brincar embaixo do bloco”.

Sim, a maior parte das crianças e adolescentes brincava debaixo dos blocos e nos arredores, de pique-pega, pique-esconde, de finca, de bolinha de gude, de bete, de futebol, de queimada etc… E, às vezes, aos sábados e domingos, saíamos em pequenas expedições para conhecer o cerrado, comer cajuzinho, pitanga, tomar banho e brincar com argila no riacho da 413/414 Norte, muito antes da criação do Parque Olhos d’Água, na década de 1990.

A maior parte das quadras ainda não tinha nenhum bloco de alvenaria construído, nem comercial, nem residencial. Aqui e ali, apenas algumas farmácias e mercearias, de madeira. Algumas vias ainda eram de terra. Por esse motivo, esta região do Plano era chamada de ‘Asa Morte’.esquerda

A maior parte das quadras ainda não tinha nenhum bloco de alvenaria construído, nem comercial, nem residencial. Aqui e ali, apenas algumas farmácias e mercearias, de madeira. Algumas vias ainda eram de terra. Por esse motivo, esta região do Plano era chamada de “Asa Morte”.

A partir de 1974, passamos a morar na 309 Sul. Terminei o ensino fundamental nas escolas da 107 Sul, da 106 Sul e no Ginásio do Setor Oeste. Tenho ótimas lembranças dessas escolas, inclusive, quando estudei na Escola Parque, todas as tardes, com aulas de educação física, música, teatro, artes industriais, Práticas Integradas do Lar.

Até hoje, faço a barra das minhas calças e prego meus botões, seguindo o que aprendi nessa disciplina. Que saudade do tempo em que a educação era pública, gratuita e de qualidade! E a liberdade de poder ir para a escola e voltar para casa a pé, sem nenhuma preocupação, passando pela Pizzaria Dom Bosco na 107 Sul, ou na primeira banquinha de jornais e revistas do Plano, na 108 Sul ou pela Igrejinha da 307/308 Sul.

Aos domingos, a família toda frequentava o Clube Unidade de Vizinhança, entre as quadras 108/109 Sul. E depois, almoçávamos no Roma, na 511 Sul, ou no Xique Xique, na 107 Sul. Mais tarde, no final dos anos 1970, no ensino médio, e na UnB, no início dos anos 1980, fui descobrindo que sensação de liberdade que sentia era restrita, pois não havia a participação popular nos processos decisórios do país.

São muitas lembranças, desta Brasília em Construção, que previa ser inclusiva, mas que não possibilitou, com o passar dos anos, que todas as pessoas que para cá vieram, com esperança de um futuro melhor, pudessem viver nas diversas regiões de Brasília, como os mesmo direitos, serviços e equipamentos públicos do Plano Piloto.”

Gustavo Chauvet, 56 anos, escritor e pesquisador sobre a História Ambiental de Brasília, mora no Park Way

  • Depoimento concedido ao jornalista Lúcio Flávio