09/04/2020 às 11:04, atualizado em 09/04/2020 às 15:39

Um espaço com mais dignidade e proteção

Governador Ibaneis Rocha visita instalação erguida para acolher pessoas em situação de rua no autódromo. Elas já estão chegando ao local para ocupar as 200 acomodações

Por Lúcio Flávio e Ary Filgueira, da Agência Brasília

O governador Ibaneis Rocha visitou o acampamento montado no autódromo Internacional Nelson Piquet para as pessoas em situação de rua e gostou do que viu. O espaço, que fica na área de estacionamento dos carros, começou a receber seus primeiros usuários na terça-feira (7). Hoje (9), a partir das 11h, começam a chegar mais pessoas.

A cada cômodo visitado, o governador fez questão de cumprimentar alguns já acolhidos ali, usando o cotovelo em vez da mão, como determina a Organização Mundial de Saúde (OMS) para prevenir o contágio pela Covid-19. E quis saber delas se estavam sendo bem tratadas.

A ideia da iniciativa, além de proteger as pessoas vulneráveis nesse tempo de pandemia, é evitar que a contaminação da Covid-19 se prolifere entre essa população e consequentemente pela cidade. Recebido por servidores da Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes), o chefe do Executivo local checou cada espaço, dos dormitórios à área de banho, passando pelo refeitório.

De acordo com a secretária de Desenvolvimento Social, Mayara Noronha Rocha, é hora de ajudar a todos. “Vivemos um momento singular em nossas vidas, estamos cuidando de todos os cidadãos brasilienses e principalmente dos mais vulneráveis. Este gesto de acolher em um espaço adequado e dar o documento pessoal ao cidadão de rua, é lembrá-lo de que ele tem nome, origem e uma história. Estamos proporcionando dignidade. É tempo de ação”, disse.

Segundo Francisco Soares, o Chicão, subsecretário de Administração Geral da Secretaria de Desenvolvimento Social, responsável pela logística do espaço, a expectativa é dar dignidade a essas pessoas que vivem à margem da sociedade. “Se já é apreensivo para quem tem moradia, imagina para quem está em situação de rua, que não tem acesso à alimentação e higienização”, comenta Chicão. “O acampamento foi feito no sentido de suprir essas deficiências”, continua.

O alojamento tem lugar para 200 usuários, que estão chegando ao longo desta semana. Ali, eles terão uma estrutura semelhante à casa. Feitos de contêiner, os quartos possuem cama, armário e ventilador. Além disso, eles contam com iluminação. São 50 ao todo e com capacidade para abrigar até 4 pessoas.

Eles também terão roupa lavada e um kit de higiene e não precisarão sair de lá para nada. Serão servidas as três refeições principais, sendo café da manhã, almoço e jantar. Além disso, receberão assistência 24h enquanto persistir esse período de pandemia na cidade. “A ideia é retardar ao máximo a chegada desse pessoal na rede hospitalar para não provocar um surto de demanda e o colapso do sistema médico”, observa Chicão.

Durante a visita, o governador Ibaneis Rocha fez algumas sugestões, entre elas, a solicitação de documentação, para aqueles que não têm, junto à Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus). “Cada dia aqui é um aprendizado, temos que ordenar aqui dentro de acordo com as necessidades das pessoas, é um processo de mudança diário de adaptação para melhor atender”, destaca Karine Alves, subsecretária de Assistência Social da Sedes.

As primeiras pessoas em situação de risco retiradas da rua chegaram na terça-feira (7). O grupo era composto por 50 homens. A maioria idosos. Eles passaram por uma triagem antes de serem aceitos ali.

A aferição é necessária para saber se tiveram contato com o vírus ou possuem algum sintoma. Ao chegar ao autódromo, foram novamente examinados. Dessa vez, para saber se tinham febre, que é um sintoma predominante nos pacientes da Covid-19.

Caso testem positivo para o novo coronavírus na triagem, ou reúnam sintomas da doença, esses serão encaminhados ao Movimento Eureka, na quadra 906 Norte. Vale lembrar que só ficarão lá as pessoas que não necessitem de internação pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

A subsecretária de Assistência Social, Kariny Alves, disse que não houve recusa por parte deles na abordagem para ficarem no Autódromo enquanto não passa esse surto da pandemia. “Eles mesmos estavam preocupados porque viam todo mundo de máscara e eles não estavam”, disse Kariny.

Rubens Faleiro de Siqueira, 57 anos, classificou como uma oportunidade. “Tenho de agarrar e não voltar mais para as ruas quando isso terminar”, disse ele. Morador do Goiás, veio para a cidade em 1974 pela primeira vez. Entre idas e vindas para cá, acabou indo para as ruas. Antes, estava dormindo no Setor Comercial Sul (SCS).

Rubens agora vai dividir o mesmo quarto com Adailton Maia Santos, 57, que, por sua vez, disse que a nova moradia é melhor “que o céu”. “Estou muito contente de ter vindo para cá. Estava muito só, perambulando nas ruas”, lembra.

Os usuários do acampamento no autódromo também vão obedecer as orientações da OMS, para evitar a transmissão e contágio da Covid-19. Até na hora das refeições, deverão guardar distância de um para o outro. Caso alguém esqueça da recomendação, os servidores da Secretaria de Desenvolvimento Social estão ali para lembrá-lo: “Só dois por mesa e distante”, corrigia Daniele Pereira, gerente de Serviços Especializados em Abordagem Social, durante o jantar da terça-feira (7), quando as primeiras dezenas deles decidiram sair das ruas e voltar para o convívio.da dignidade.