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16/04/2020 às 15:00, atualizado em 15/04/2020 às 13:40
O ano era 1967 e o livreiro veio do Rio de Janeiro para Brasília com 17 anos. Arranjou emprego numa livraria do Hotel Nacional. O resto é história, muita história… que ele conta nessa carta de amor
[Numeralha titulo_grande=”5″ texto=”dias para os 60 anos de Brasíliacentro
Em homenagem à capital federal, formada por gente de todos os cantos, a Agência Brasília está publicando, diariamente, até 21 de abril, depoimentos de pessoas que declaram seu amor à cidade.
“Cartas de amor para ela,
Quando eu te conheci você tinha sete anos, era uma criança e eu saboreava um pastel com caldo de cana na rodoviária ao amanhecer. Você era jovem e eu também. No meu primeiro dia na cidade estava chegando de uma viagem do Rio de Janeiro para atender um convite de trabalho em uma livraria que funcionava na galeria de lojas do principal hotel da cidade, o Hotel Nacional, que funcionava como um shopping naquela época.
Minha querida Brasília, este ano o seu aniversário vai ser diferente, não vai ser igual àqueles que se passaram, estamos de quarentena e vamos ficar em casa para não adoecer.esquerda
Subi a escada rolante para a parte superior da Rodoviária e era cedo, o sol iluminava a Esplanada. Bela paisagem, um gramado verde que parecia um tapete e o céu azul. Parecia que eu estava voando em um balão, sinais da lua e de algumas estrelas no céu, fiquei hipnotizado com o que via.
Apresentei-me ao meu novo endereço de trabalho e moradia: morava na sobreloja da livraria. Para chegar ao local fui a pé da Rodoviária admirando a paisagem, uma subida via rampa de terra vermelha (hoje o Conic) até a chegada ao Hotel Nacional com uma visão em 360 graus da cidade.
Fiquei deslumbrado. A estrutura em obras da Catedral e do Teatro Nacional e a Torre de TV, ponto de encontro aos sábados em suas barracas regionais e paqueras emocionantes.
O tempo passou e você foi crescendo. Fui conhecendo Planaltina (quantas histórias), Gama, Sobradinho, Guará, Morro do Urubu, Barracões da Asa Norte (W3 Norte), Taguatinga, Ceilândia, Samambaia, Cruzeiro Velho e Novo, Paranoá, São Sebastião, Jardim Botânico e Telebrasília…
Você cresceu e o relógio da vida não para. Sessentona necessitando de reparos em sua anatomia, suas curvas e tesouras precisando de retoque, suas retas e largas avenidas largas cederam espaço ao Metrô, o carnaval das escolas de samba cedeu espaço para os blocos de rua, e até às livrarias acabaram-se: agora é tudo on line.
Minha querida Brasília, este ano o seu aniversário vai ser diferente, não vai ser igual àqueles que se passaram, estamos de quarentena e vamos ficar em casa para não adoecer. O relógio não para, mas vamos lutar para que o ano que vem possamos colocar a Bateria da Aruc na comemoração de seus 61 anos.
O sonho não acabou.”
Ivan Presença, 70 anos, é livreiro e mora no Jardim Botânico