27/05/2020 às 13:15, atualizado em 27/05/2020 às 13:28

TeleCovid, o humano do outro lado da linha

Com mais de 8 mil atendimentos desde março, quando foi criado, serviço para tirar dúvidas e orientar sobre Covid-19 conta com a ajuda de futuros jovens médicos

Por Lúcio Flávio, da Agência Brasília | Edição: Fábio Góis

Aluna da Católica, Lívia Nascimento diz que experiência do TeleCovid não se adquire na cadeira da faculdade | Foto: Paulo H. Carvalho / Agência Brasília

Aprendizado

Todo esse grupo de quase 100 voluntários de futuros médicos são divididos em três turnos diferentes. São sempre dois alunos da Universidade Católica de Brasília por período e seis pupilos da Escola Superior de Ciências da Saúde.

O plantão noturno fica por conta de enfermeiros do Samu. Um médico orientador da ESCS fica de plantão durante os turnos desses “call-residentes”,  para ajudar no esclarecimento de casos mais complexos.

Prestes a pegar o canudo do curso na Católica e vestir o jaleco de médica, Lívia Nascimento, 26 anos, confessa que a experiência tem sido engrandecedora. A motivação que a levou ser uma das voluntárias da Católica nessa parceria com o GDF foi a singularidade destes dias difíceis de pandemia, que assola o mundo inteiro.

“É um momento único sobre uma situação de atendimento à população em plena pandemia”, diz a estudante, que pretende se especializar em medicina familiar e em gestão em saúde.

A colega de turma, Marianna de Almeida Frech, 31 anos, no penúltimo semestre da Católica, reforça a impressão sobre a excepcionalidade do momento. Ou seja, único para qualquer profissional de saúde em qualquer canto do mundo.

“É uma experiência que vai marca qualquer profissional. Estamos atuando em um momento único em nosso país e em todo o mundo, e com a possibilidade de ajudar as pessoas com informações, tranquilizando muito delas”, acrescenta a jovem, também formada em Farmácia.

Humanização

As voluntárias do TeleCovid contam que a maioria das pessoas que são atendidas do outro lado da linha não apresentam sintomas de Covid-19. Mas, atordoada por uma avalanche de informações tristes e desoladoras sobre o tema nos noticiários, a maioria delas liga para a central sem esconder a angústia. É gente que, em grande parte, faz parte do grupo de risco (mais de 60 anos, imunidade baixa, com histórico de outras doenças etc). Quando surge alguém com suspeita de infecção, a orientação é procurar uma unidade de saúde ou como fazer o isolamento domiciliar.

Em ambos os casos, acreditam as futuras médicas, pesa o lado condescendente, emocional e generoso da profissão. É quando a parte teórica se soma à atividade empírica do dia a dia para aliviar o sofrimento, a ansiedade e a aflição de quem está do outro lado da linha. Ou seja, no exemplo do médico humanista Rieux, de A peste, fazer o bem sem olhar a quem. E, neste caso, o outro é quase invisível, em que a presença se faz por meio da voz.

“Acho que conseguimos ajudar muitas pessoas dessa forma”, diz Marianna. “É uma experiência que não se aprende sentada numa cadeira de faculdade, com questões teóricas. Então, tem sido uma oportunidade muito interessante”, concorda Lívia.

Estudante do primeiro semestre do curso de medicina da Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS) – instituição que forma, em média, 120 profissionais do segmento por ano, entre enfermeiros e médicos –, Geovanna Pereira Costa, 21 anos, tem a expectativa de ser útil em um momento tão delicado da humanidade.

“É a chance que temos de devolver para a sociedade, como assistente, o que aprendemos, e de crescermos como pessoa humana e social”, resume.