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03/11/2021 às 10:59, atualizado em 04/11/2021 às 09:23
São mais de 8 mil artefatos de diferentes tribos; material, apreendido pela PF em operação de combate ao contrabando, chega nesta quarta (3)
O Memorial dos Povos Indígenas (MPI), equipamento da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec), recebe nesta quarta-feira (3), às 14h30, mais de 8 mil artefatos de diferentes nações indígenas, apreendidos na Operação Pindorama, de combate ao contrabando, empreendida pela da Polícia Federal. Havia 18 anos que esse material estava guardado em depósito da PF.
Uma equipe da Secec vai embalar e transportar o acervo para o MPI. No museu, haverá um recebimento simbólico dos objetos. Indígenas da nação Guajajara, habitantes da capital federal, farão um ritual para celebrar a proteção desse material que poderia ter sido incinerado se não fosse o pedido de salvaguarda da pasta.
O gerente do MPI, David Terena, visitou a Superintendência da Polícia Federal em Brasília e emocionou-se ao testemunhar o material apreendido que passa a ser custódia do museu: “Fiquei muito feliz. Essa doação é inédita”.
Com essa doação, autorizada pelo Ministério Público Federal em pleito da Secec, o MPI, hoje com cerca de 700 itens, torna-se detentor da segunda maior coleção de objetos dos povos originários do Brasil, atrás apenas do Museu do Índio, que fica no Rio de Janeiro e é administrado pela Fundação Nacional do Índio (Funai).
“A doação acentua o caráter de preservação da memória e dos fazeres dos povos originários, vocação primeira do Memorial dos Povos Indígenas. Acolhemos cada peça, que, infelizmente, teve esse destino do contrabando”, destaca o titular em exercício da Secec, Carlos Alberto Jr.
Objetos raros
A equipe da Subsecretaria do Patrimônio Cultural (Supac) avaliou o recebimento das peças. O coordenador das diretorias da Supac, Felipe Ramón, informa que o lote de milhares de objetos, alguns raríssimos, reúne trabalhos de diversos povos indígenas. “Podemos citar, por exemplo, pentes confeccionados pelos karajás e cocares feitos pelos kayapós, adereços corporais raros e objetos com penas de animais em risco de extinção”, ilustra.
A gerente de acervos da Supac, Aline Ferrari, reforça a importância desse acervo: “Apesar do tempo, tem peças muito bem-conservadas. Estavam em caixas de isopor lacradas, assim não sofreram com a ação do sol e da poeira. Teremos material para restaurar peças danificadas que já estão em nosso acervo. Esse material todo é de origem animal e vegetal, muito sensível, então ter um banco de peças de reposição é fundamental”.
Assim que os objetos chegarem ao MPI, esse lote passa por processo de seleção e higienização para indicação de possíveis restauros. No momento, o museu está em fase final de reforma, com novo sistema de proteção de incêndio, troca de piso e pintura. A previsão de reabertura é para este mês.
“O valor monetário desse acervo é incalculável, mas o valor monetário não é a única riqueza: ali estão representações de saberes tradicionais e modos de vida de vários povos. O valor cultural, artístico e histórico também é enorme”, aponta Felipe Ramón.
Operação Pindorama
A Pindorama – denominação dada ao Brasil por povos dos Andes e que remete à cosmogonia dos tupis-guaranis sobre uma terra de bem-aventurança – foi deflagrada em vários estados em 15 de maio de 2003 para evitar que os artefatos indígenas fossem embarcados para os Estados Unidos e países da Europa, onde alcançam alto valor para colecionadores e organizações criminosas de biopirataria. “Havia sementes embaladas a vácuo para plantio fora do Brasil”, relata Felipe Ramón.
Processo judicial ao qual a Secec teve acesso registra que “o líder da quadrilha encomendava artefatos aos demais membros, localizados nos diversos estados da Federação; e, quando recebia os produtos, realizava depósitos em dinheiro a servidores públicos federais dos quadros da Funai”. Os crimes prescreveram sem condenações.
* Com informações da Secretaria de Cultura e Economia Criativa