29/10/2022 às 16:05, atualizado em 01/11/2022 às 11:38

190 enfermeiros obstetras atuam na rede pública de saúde

Aumento de 170% no número de profissionais ajudou a realizar 2,9 mil partos em oito meses

Por Adriana Izel, da Agência Brasília | Edição: Rosualdo Rodrigues

A presença do enfermeiro obstetra na rede pública de saúde do Distrito Federal tem crescido. Antes de 2020, os centros obstétricos em 10 hospitais da capital e a Casa de Parto de São Sebastião somavam cerca de 70 profissionais. Hoje, são 190 em atuação fazendo partos normais de baixo risco e auxiliando mães, bebês e pais durante o processo.

Suely de Jesus supervisiona o trabalho de nove enfermeiras obstetras no Hospital de Ceilândia: “São elas que pegam e fazem os primeiros cuidados com as mães e os bebês”

Primeiros cuidados

À frente da supervisão de enfermagem do Centro Obstétrico do Hospital de Ceilândia (HRC) há 13 anos, Suely de Jesus Cotrim conta, atualmente, com nove enfermeiras obstetras no local. “O trabalho é fazer o parto normal e dar o primeiro cuidado do bebê. São as enfermeiras que pegam e fazem os primeiros cuidados com as mães e os bebês”, explica.

“Ajudamos a reduzir a mortalidade materna, garantimos a comunicação efetiva e a proximidade da mãe com o bebê. São boas práticas recomendadas desde 1996”Raquel Ribeiro, enfermeira obstetra do HRCesquerda

Os partos efetuados pela equipe de enfermagem são aqueles classificados como risco habitual, em que a vitalidade da mãe e do bebê estão adequadas. “Essa triagem é baseada no pré-natal, na caderneta da gestante e nos exames. A partir dessas informações e com avaliação clínica, a cada hora vamos avaliando e classificando a permanência do risco ou não”, afirma a enfermeira obstetra do HRC, Raquel Ribeiro Lira Diógenes. Casos reclassificados para risco relativo ou alto risco são realizados por médicos obstetras.

A atuação da equipe de enfermagem tem garantido o aumento do número de partos normais e de forma humanizada na rede, além de reduzir a mortalidade e os índices de sofrimento dos bebês e das mães. Segundo a Secretaria de Saúde, em 2019 e 2020, foram feitos 1.604 e 1.681 partos normais feitos por enfermeiros obstetras, respectivamente, contra 2,9 mil até agosto deste ano. No ano passado, o número atingiu 3.026.

“Ajudamos a reduzir a mortalidade materna, garantimos a comunicação efetiva e a proximidade da mãe com o bebê. São boas práticas recomendadas desde 1996”, diz a enfermeira Raquel. “O parto é um momento de respeitar a mulher, o bebê e a família. A mudança do modelo passa pela assistência, formação e gestão”, acrescenta.

Foi isso que a mãe Ana Claude Alves sentiu durante o parto da segunda filha, Alice Maria. As duas foram atendidas pelas enfermeiras obstetras do HRC durante as cinco horas do trabalho de parto. “As enfermeiras foram incríveis. Senti todo o cuidado da equipe, mesmo com a minha sensação de tensão”, revela.

Mudança de cultura

A enfermeira Fernanda Coelho do Nascimento, que foi interna do Centro Obstétrico do Hospital Regional de Ceilândia há três anos e voltou neste ano como concursada, lembra que havia uma resistência em relação à atuação dos enfermeiros especializados. “Percebo essa mudança de cultura. Hoje não só a equipe está muito mais aberta para a presença da enfermeira obstetra como a própria paciente. Já é uma atuação bem concreta e consolidada”, comenta.

Entre as mudanças, Fernanda destaca o pedido das mães e dos acompanhamentos para a pintura da placenta como recordação, o corte do cordão umbilical e a utilização de bola e cavalinho (equipamento que visa o relaxamento, aumento da dilatação e diminuição da dor) para ajudar no processo do parto.

A supervisora da enfermagem Suely de Jesus Cotrim conta que a ampliação da atuação da equipe de enfermagem obstétrica no centro já resulta em ações humanizadas no hospital durante o parto. “Percebemos que muitas das práticas que a gente não acreditava que poderiam ser feitas, hoje fazemos como se tivéssemos feito a vida inteira”, afirma.

De acordo com a supervisora, o local registrou a queda da taxa de episiorrafia (incisão cirúrgica no períneo) de 99% para 7%, do percentual de mulheres com laceração, e do índice de bebês com hipóxia (ausência de oxigênio suficiente nas células e tecidos corporais) de 12% para 0,8%.

Outras ações

Para além da realização de partos normais, as enfermeiras do Hospital de Ceilândia também atuam auxiliando os médicos nas cesarianas. “Naquele momento as mulheres precisam da gente. A enfermeira vai ter todo esse olhar de respeito para que a mulher receba um cuidado melhor”, destaca Suely.

Esse é o trabalho da enfermeira Marina Simpionato de Oliveira de Moraes. “A gente consegue dar um certo conforto e apoio emocional a elas. A gente orienta até como os acompanhantes podem ajudar neste momento e, principalmente, na recuperação. Procuramos ajudá-las no contato pele a pele e na amamentação”, define.

120 enfermeiros obstetras atuam na rede pública de saúde