06/12/2023 às 20:43, atualizado em 06/12/2023 às 20:49

Nasce bebê da primeira cirurgia intrauterina no Distrito Federal

Ágatha está na UTI do Hospital Materno Infantil de Brasília. Equipe avalia quadro como promissor

Por Agência Brasília* | Edição: Saulo Moreno

Nasceu a primeira criança a passar por uma cirurgia intrauterina na história do Distrito Federal. Com 1,1 kg, Ágatha está na unidade de terapia intensiva neonatal do Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib) e demonstra estar forte e saudável. O parto cesárea ocorreu às 5h01 desta quarta-feira (6).

Jeremias Nascimento comemora o nascimento da filha: “Para mim, o milagre já aconteceu. Agora é só esperar pela alta dela”

Por ter nascido com 27 semanas e 4 dias de gestação, a menina foi classificada como prematura extrema. Partos até a 36ª semana são considerados de pré-maturos e os partos “a termo” ocorrem entre a 39ª e a 41º semana. Isso significa que nas próximas semanas Ágatha será acompanhada de perto pela equipe de neonatologia do Hmib, contando também com o apoio do Banco de Leite, fundamental para garantir a nutrição dela e das outras 39 crianças internadas na UTI, além de outros setores do hospital.

Enquanto isso, os pais da pequena Ágatha já têm a chance de ver o desenvolvimento da filha, nem que seja somente por alguns minutos a cada dia. “Para mim, o milagre já aconteceu. Agora é só esperar pela alta dela”, diz o pai de Ágatha, o mecânico montador Jeremias Nascimento, de 43 anos.

“A correção intrauterina da espinha bífida é um marco para a Saúde do Distrito Federal. A alta complexidade do procedimento exige uma equipe extremamente qualificada, e temos isso no Hmib. Os benefícios são enormes, como redução de danos neurológicos, de problemas de mobilidade e de infecções, diminuindo muito a letalidade”Lucilene Florêncio, secretária de Saúdeesquerda

Cirurgia de três horas

Chamada cientificamente de mielomeningocele ou espinha bífida, a malformação identificada durante o pré-natal causa desafios de saúde desde o útero até o fim da vida, sendo os mais comuns a impossibilidade de andar e inchaço no cérebro. As tentativas de correção cirúrgica ocorriam somente após o parto, com pequeno sucesso. A partir de 2015, começaram a ocorrer no Brasil os procedimentos intrauterinos, que melhoram o prognóstico das crianças.

A cirurgia inédita envolveu 20 servidores do Hmib ao longo de três horas. Além disso, a equipe se mobilizou para encaminhar o procedimento com agilidade: uma médica da rede privada que fazia o pré-natal de Raiane identificou a condição e a encaminhou ao hospital da SES-DF em 16 de outubro. Em doze dias, foi realizada a preparação necessária e a cirurgia ocorreu na 22ª semana de gestação, um período considerado ideal pelos profissionais da área.

O procedimento também contou com a presença do médico Fábio Peralta e dos hospitais Gestar Centro de Medicina Fetal, Hcor e Maternidade Star, todos de São Paulo. Referência internacional em medicina fetal e com experiência de já ter realizado mais de 600 cirurgias do tipo desde 2015, Fábio Peralta comemora as novas possibilidades trazidas pela técnica. “Não existia esse tipo de correção, nunca víamos uma criança fora da cadeira de rodas, tendo um desenvolvimento normal. Hoje, o mais frequente é a gente ver as criancinhas correndo por aí, indo bem na escola, praticando esporte, tendo um desenvolvimento intelectual adequado”, afirma.

Com a projeção estatística de cerca de 250 crianças nascidas ao ano no Brasil com espinha bífida, pesquisadores da área trabalham para expandir o número de hospitais que poderão se tornar referência para a realização do procedimento. “A correção intrauterina da espinha bífida é um marco para a Saúde do Distrito Federal. A alta complexidade do procedimento exige uma equipe extremamente qualificada e temos isso no Hmib. Os benefícios são enormes, como redução de danos neurológicos, de problemas de mobilidade e de infecções, diminuindo muito a letalidade”, afirma a secretária de Saúde do DF, Lucilene Florêncio.

A rede pública também está capacitada para realizar o diagnóstico precoce da doença durante o pré-natal. “Esse foi o primeiro procedimento de outros que com certeza serão realizados com o mesmo sucesso”, completa a gestora.

*Com informações da SES-DF