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08/05/2017 às 09:23, atualizado em 25/09/2017 às 14:58
Atividades auxiliam a construção do vínculo entre as equipes de Saúde da Família e os pacientes, como Francisco da Silva, que reverteu a atrofia das mãos com a prática do instrumento
Na Estratégia Saúde da Família, o cuidado com cada paciente vai além de tratar os sintomas de determinada doença. Entre as prioridades, também está a promoção da saúde e a prevenção, que podem envolver as mais variadas ações.
Na Unidade Básica de Saúde (UBS) 1 do Itapoã, por exemplo, as aulas de violão são mais que a realização de um sonho antigo de Francisco Gomes da Silva, de 62 anos. Sem saber ler ou escrever, ele exercita a memória a cada nova nota que aprende. “Tenho que me esforçar para guardar tudo na minha cabeça e depois treinar.”
Com atenção, o morador da região posiciona os dedos calejados nas cordas do instrumento. Antes, a dificuldade em fazer o movimento era grande. O voluntário Frederico Leite Marques conta que montar os acordes ajudou Francisco a fortalecer as mãos e, assim, reverter a atrofia que as atingia.
Montar os acordes ajudou Francisco a fortalecer as mãos e, assim, reverter a atrofia que as atingiaesquerda
A iniciativa foi proposta por um agente comunitário de saúde da unidade, que levou a ideia para Frederico. O voluntário aprendeu a tocar quando era pequeno, com o pai, e hoje se apresenta em bares do DF. “A troca de experiência é imensa. Enquanto ensino, aprendo com eles.”
Os benefícios ultrapassam as melhorias na saúde. “Aqui eles se distraem, esquecem os problemas”, avalia Frederico. Ele é técnico administrativo na unidade e começou a dar as aulas no ano passado.
A turma de Francisco é a segunda que o voluntário monta, com dez alunos, e já há uma lista de espera para outra oportunidade, ainda sem data para começar.
São três meses de aula, com noções básicas de como tocar violão. A duração de cada encontro depende do desempenho dos alunos para executar a lição do dia.
Para participar, é preciso ter o instrumento e estar em dia com o cartão de vacina, como uma forma de incentivar o cuidado com a saúde. No fim do curso, cada participante recebe um certificado.
Essa rotina é benéfica para outro ponto essencial da Estratégia Saúde da Família: o vínculo entre as equipes e os pacientes. Ornelina Maria Lacerda, de 73 anos, faz parte de um grupo de artesanato na UBS 1 do Itapoã.
Para ela, o contato semanal com os servidores facilita muito quando precisa de algum cuidado especial devido à pressão arterial ou à diabetes, por exemplo.
“Esse tipo de iniciativa aumenta a socialização e melhora a autoestima e o humor de muitos pacientes”, explica a gerente de Serviço de Atenção Primária da unidade, Eleuza Martinelle. Segundo ela, no caso das aulas de violão, a prática também promove a integração entre pessoas de idades distintas. “Podem participar idosos, jovens, adolescentes.”
Já o grupo de artesanato reúne mulheres com perfis semelhantes ao de Ornelina, que viu ali uma oportunidade para complementar a renda familiar.
Para a artesã Ornelina Maria Lacerda, o contato semanal com os servidores facilita muito quando ela precisa de algum cuidado especial devido à pressão arterial ou à diabetesdireita
A equipe é coordenada pela própria comunidade e acompanhada por uma técnica de enfermagem e por uma agente de serviço social. Niedja Nara Granjeiro Sampaio, de 47 anos, e Ornelina se conheceram nas reuniões e hoje até se reúnem fora da unidade para praticar.
Os encontros são sempre às segundas-feiras, a partir das 14 horas. Depois que entrou no grupo, há dois anos, Niedja retirou a carteira de artesã e sempre que pode participa de feiras para expor o que produz.
Não há um levantamento preciso de quantos grupos do tipo há na rede pública. No entanto, as unidades ainda oferecem práticas integrativas de saúde e equipes de cuidado à saúde ligados a questões como tabagismo, obesidade e gravidez.
Para saber mais sobre as atividades disponíveis, é preciso ir pessoalmente à unidade mais próxima.
Edição: Paula Oliveira